O ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, comentou em sua coluna de domingo [7/12/08] duas matérias que geraram críticas de leitores. Uma delas, publicada na capa do diário em novembro, abordava os esforços da atriz Angelina Jolie para controlar sua imagem; a outra, publicada na capa da revista do NYTimes de dois domingos atrás, tratava sobre a batalha da infertilidade e a experiência de pagar US$ 25 mil por uma barriga de aluguel.
Hoyt alega que o diário cobre guerra, recessão, política e ciência com seriedade e eficácia e que uma mudança de tema pode ser algo restaurador. Em relação à matéria de Angelina, muitos leitores questionaram o excesso de espaço dado a uma celebridade. Foram mais de 400 comentários. Segundo Hoyt, a questão fundamental é saber se todos os fatos sobre a atriz são verdadeiros.
O repórter Brooks Barnes iniciou o texto contando como Angelina e seu marido, o ator Brad Pitt, negociaram as fotos de seus gêmeos recém-nascidos e uma entrevista com uma revista de fofocas de celebridades. Além do dinheiro, eles teriam pedido ‘um plano editorial’ e cobertura futura positiva. Mesmo o artigo não dizendo se a revista que publicou as fotos – a People – cumpriu sua parte no acordo, ela está fortemente envolvida na questão.
A revista negou que tais condições tenham existido. Larry Hackett, chefe de redação, contou que negociou as fotos e a entrevista com o agente de Angelina, Geyer Kosinski, o de Pitt, Jon Liebman, e com Jonathan Klein, executivo-chefe da Getty Images, agência responsável pelas fotos. ‘Nunca houve qualquer conversa sobre cobertura positiva’, afirmou. Liebman confirmou a versão de Hackett; Kosinski disse que a versão do NYTimes era falsa e Klein afirmou que a People estava ‘livre para escrever o que quisesse’. Ele ainda informou que o casal escolheu as fotos que venderiam à revista, chegando a sugerir a de capa – sugestão que não foi aceita pela People.
Hoyt leu o contrato das fotos e entrevista e atestou que, oficialmente, não houve qualquer menção de cobertura positiva ou plano editorial. O documento dizia apenas que a revista estava comprando os direitos americanos de 10 fotos e que o casal responderia às perguntas por e-mail. Mary Green, repórter da People que fez a entrevista, disse que não recebeu limites sobre o que deveria perguntar. A matéria acompanharia as fotos dos gêmeos, então ela concentrou as perguntas no tema ‘vida familiar’. A reportagem de 10 páginas publicada na revista no dia 18/8 era positiva, mas, segundo a People, não por ter ocorrido qualquer acordo prévio.
É certo que Angelina tem um histórico de manipular a cobertura da mídia, mas como ninguém veio a público dizer algo contrário aos envolvidos na matéria, o NYTimes tem que corrigir a impressão que deu sobre um acordo que não conseguiu provar. Bruce Headlam, editor de Barnes, disse que o repórter confirmou a matéria com uma terceira fonte e acredita que o artigo é verdadeiro – o que deixa o NYTimes dependente da afirmação de uma fonte anônima.
Barriga de aluguel
Já a matéria sobre infertilidade, escrita pela jornalista e escritora Alex Kuczynski para a revista do diário, gerou críticas por enfatizar, de maneira bastante clara, as diferenças sociais entre duas famílias americanas. O artigo, escrito em primeira pessoa, contava a experiência de Alex em ter um filho por meio de barriga de aluguel. O longo texto citava apenas levemente as diferenças sociais e econômicas entre a família da autora e a de Cathy Hilling, que gerou a criança, e por isso os editores optaram por deixar estas diferenças claras através de fotografias. Os leitores não gostaram: as imagens de Alex e Cathy na frente de suas respectivas casas davam a exagerada impressão de mulher rica explorando a mulher pobre. Alex foi retratada no gramado verde na frente de sua varanda branca, com o bebê no colo e ao lado de uma babá vestida de branco. Cathy aparecia grávida e descalça, sentada em sua varanda não tão branca com um pedaço de gramado não tão verde.
Procurada por Hoyt, Alex contou que também não gostou das fotos, e chegou a dizê-lo aos editores antes da publicação da matéria. Jill Abramson, chefe de redação do NYTimes, explica que, como o artigo não tocava o suficiente na disparidade econômica e social, ela achou que as pessoas podiam acabar não tendo a noção suficiente do tema. Na opinião do ombudsman, os leitores teriam ficado mais satisfeitos se houvesse mais espaço, na revista, para os sentimentos de Cathy. ‘Uma gravidez de aluguel envolve duas mães e não foi dado espaço para ambas’, comentou.