O crítico de música clássica Donald Rosenberg perdeu seu posto no jornal Cleveland Plain Dealer depois de uma série de resenhas negativas sobre o diretor musical da Orquestra de Cleveland. Segundo ele, membros do alto escalão da orquestra, irritados com as críticas, deram início a uma ‘campanha de difamação’ e, por conta disso, seus chefes acabaram cedendo aos pedidos para que ele fosse afastado.
Rosenberg não deixou barato, e abriu um processo contra o jornal. O caso virou tema principal nas discussões entre críticos musicais nos EUA, principalmente em tempos de cortes em jornais por conta da crise econômica. Para eles, uma voz importante foi silenciada. Curiosamente, Rosenberg continua no jornal como repórter de música e crítico de dança, além de escrever algumas resenhas sobre música – mas não sobre a Orquestra de Cleveland. Em setembro, o jornal designou um ex-estagiário que havia trabalhado com ele para a função.
Interferência e discriminação
A ação de Rosenberg cita o Cleveland Plain Dealer e a Musical Arts Association, organização responsável pela orquestra, como réus, acusados de difamação. Também são citados nominalmente a editora Susan Goldberg; o diretor-executivo da orquestra, Gary Hanson; seu presidente, Richard Bogomolny; e James Ireland III, membro do conselho. O crítico, de 56 anos, acusa a direção da orquestra de interferência prejudicial em seu trabalho, e o jornal e Susan, de discriminação por idade e violação do princípio de liberdade de expressão de Ohio. Ele pede indenização de pelo menos US$ 50 mil (equivalente a quase 120 mil reais).
A Orquestra de Cleveland declarou que tem o direito de criticar os críticos, e que estava apenas expressando suas opiniões, e não difamando alguém. Segundo o advogado da orquestra, Robert Duvin, é engraçado que um jornalista experiente ache que as pessoas sobre as quais ele escreve têm a obrigação de ficar quietas. ‘Nós não temos a mesma plataforma [o espaço jornalístico], então temos que escrever cartas ou marcar reuniões. Vocês [jornalistas] podem escrever todos os dias, e martelar quem quiserem o quanto quiserem’, queixou-se. Sobre a acusação de que a direção da orquestra teria causado a retirada de Rosenberg do cargo de crítico, Duvin questionou: ‘E daí?’. ‘Eu considero que o que ele escreveu seja equivalente a incitar a saída do diretor de música da Orquestra de Cleveland’, comparou o advogado.
Já Susan Goldberg não comentou o assunto. Em uma entrevista anterior, entretanto, ela havia negado que interesses de fora do jornal teriam influenciado as decisões editoriais e classificou a mudança de cargo de Rosenberg de uma ‘questão interna de funcionários’.
Veterano
Rosenberg cobriu a orquestra por quase três décadas, primeiro para o Akron Beacon Journal e, desde 1992, para o Plain Dealer. Suas críticas ao diretor musical, Franz Welser-Möst, são bastante conhecidas no meio, mas ele já chegou a elogiá-lo em algumas ocasiões. Outros críticos americanos também tendem a criticar negativamente o diretor.
Segundo o processo, os problemas do crítico tiveram remetem a uma coluna escrita em 2004, quando viajava com a orquestra em turnê. O artigo falava sobre os comentários de Welser-Möst feitos a uma revista suíça em que ele dizia que usava seu charme para conseguir dinheiro de ‘viúvas ricas’ e citava a presença das ‘senhoras de cabelos azuis’ na platéia. O diretor também comparava Cleveland a uma roça. Na ocasião, um assessor da orquestra teria dito a Rosenberg que ele sofreria as conseqüências se publicasse as informações. A partir daí teria começado a campanha difamatória.
Rosenberg passou a ser barrado em ensaios, bastidores e viagens, e não podia mais entrevistar o maestro. Finalmente, a direção reuniu-se com a editora do jornal no início deste ano, para reclamar do crítico. Eles teriam afirmado que a relação entre Rosenberg e a orquestra era irreparável. Um mês depois, Susan Goldberg alertou o crítico sobre suas resenhas negativas e previsíveis, alegando que os textos estavam prejudicando a credibilidade do Plain Dealer.
‘As pessoas tem que entender que jornalistas precisam de liberdade para trabalhar sem pressão de fontes externas’, afirmou Rosenberg, ressaltando que sua queixa diz respeito à administração da orquestra, e não a seus músicos. Informações de Daniel J. Wakin [The New York Times, 12/12/08].