Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A imprensa em choque

Os jornais transmitem uma sensação de desalento nas edições de terça-feira (1/12), no pacote de notícias sobre o novo escândalo que transforma o Distrito Federal em cenário de filme policial.


A sensação decorre das evidências de que bastou o governador José Roberto Arruda ameaçar seus companheiros do partido Democratas para que dirigentes da agremiação já começassem a pensar em aliviar sua situação. Avisado de que poderia ser desfiliado sumariamente, Arruda alertou que poderia também radicalizar, insinuando que viria a público com revelações sobre seus julgadores.


A imprensa reage como se estivesse em estado de choque com a evidência de que os moralistas de ontem são os acusados de hoje. A imprensa recebe essas evidências de que tudo na política é corrupção e transmite aos leitores certo desalento, como se a sociedade tivesse que se resignar com a inevitabilidade da desonestidade na política.


Até mesmo o projeto de iniciativa popular que pretende impedir candidaturas de pessoas com ficha judicial suja é apresentado como uma ilusão: segundo os jornais, tal proposta jamais seria aprovada num Congresso tomado por parlamentares cuja biografia não é recomendada a pessoas sensíveis.


Má ilusão


Ora, o papel da imprensa não é simplesmente repercutir os acontecimentos e declarações dos entrevistados. Historicamente, os jornais têm se encarregado de sobrepor ao relato puro e simples dos fatos a reflexão necessária para que eles sejam entendidos e superados, quando for o caso.


A imprensa tem tradicionalmente as funções educativa, utilitária e fiscalizadora. Cumpre este último papel ao citar as normas diante de controvérsias sobre a legalidade de algum ato. Torna-se utilitária quando oferece informações úteis ao funcionamento da sociedade. E cumpre a missão de educação ao reforçar os valores democráticos e civilizatórios.


Se a imprensa deixa vazar desalento e conformismo diante de mais um escândalo político, o leitor pode ser induzido a desconfiar que o regime democrático não atende aos melhores interesses da sociedade.


Aí, sim, estaríamos com sérios problemas.


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O país de hoje


No momento histórico em que o Brasil é apontado entre as lideranças que podem fazer a humanidade escolher um caminho mais sustentável para o desenvolvimento, contornando rapidamente a crise e apresentando-se como protagonista destacado na luta contra o aquecimento global, convém lembrar o pensador que um dia previu essa possibilidade.


Apesar de ainda arrastar velhos defeitos e de pagar o custo de uma elite política e econômica conservadora e viciada em privilégios, o Brasil se apresenta nas melhores condições para fazer cumprir os prognósticos do pensador que anteviu este momento.




Alberto Dines:


Cabral foi o descobridor, mas quem inventou o Brasil foi um escritor austríaco que durante a Segunda Guerra Mundial aqui se refugiou e como retribuição escreveu Brasil, um País do Futuro. O nome pegou, virou sinônimo e pseudônimo do Brasil.


Stefan Zweig, o autor, suicidou-se em Petrópolis meio ano depois de lançar o livro. Esta é uma das dramáticas histórias que compõem o quarto episódio da série sobre os 70 anos do início da Segunda Guerra Mundial, produzida pelo Observatório da Imprensa.


Como se não bastasse o Holocausto, o drama das portas fechadas, países neutros trancados aos fugitivos. Quantos poderiam ter sido salvos? Até hoje ninguém fez esta conta.


Não perca esta história do mundo de ontem, hoje tão atual. Na TV Brasil, às 23h, em rede nacional. Em São Paulo, pela Canal 4 da NET e 181 da TVA.