A proporção de mulheres e homens que lêem o Washington Post é praticamente igual, diz Deborah Howell, ombudsman do jornal [14/12/08], embora as leitoras não o leiam com igual freqüência e o jornal não venha conseguindo atrair mulheres com filhos pequenos. As leitoras que acompanham esportes femininos, ou os times de suas filhas, reclamam que o esporte feminino não ganha o destaque que merece.
O Post, como a maioria dos veículos de notícias, é dominado pela cobertura masculina, da seção A até as editorias de Negócios e Esportes. Ao longo dos anos, diz Deborah, pesquisadores do Projeto para Excelência em Jornalismo, da Universidade do Noroeste e do Centro de Pesquisa Pew, verificaram que, na mídia de notícias, os homens estão no foco de muito mais matérias, são citados muito mais vezes e aparecem em mais fotos que as mulheres. Um estudo recente de avaliação de conteúdo feito pelo Post por duas semanas chegou a conclusão semelhante.
Em parte, isso ocorre porque as pessoas que são notícia – tanto no esporte, quanto na religião, nas forças armadas, na administração pública ou no crime – tendem a ser homens. É por este motivo, diz Deborah, que as mulheres não sentem o destaque que merecem no Post.
Noticiário local
‘A dominação masculina no noticiário inevitavelmente reflete uma maior probabilidade dos homens ocuparem cargos de autoridade; no entanto, as mulheres parecem ausentes do noticiário político de maneira desproporcional a suas posições de poder’, segundo um resumo feito em novembro de 2007 para um seminário sobre ‘Mulheres e Notícias’, realizado no Centro Shorenstein para Imprensa, Política e Políticas Públicas, da Universidade de Harvard. Um estudo sobre a mídia de notícias feito pelo Projeto para Excelência no Jornalismo pelo Centro Pew em 2005 constatou que 88% das matérias citavam pelo menos um homem, enquanto apenas 41% citavam uma mulher; as mulheres só eram citadas mais de 50% das vezes em matérias do tipo biográfico. Os jornais têm tendência a usar melhor fontes femininas do que outros tipos de mídia.
Durante anos, estudos feitos pelo Centro Pew para a organização People and the Press (Povo e Imprensa) demonstraram que, embora homens e mulheres tenham o mesmo interesse pelo noticiário, quase sempre as mulheres se saem pior em questões básicas sobre assuntos da atualidade – independentemente de sua formação escolar, idade ou status profissional. Mas elas mostram um conhecimento comparável ao dos homens em assuntos que lhes sejam de especial interesse, como educação e saúde. (Os homens sabem o nome do secretário de Estado e as mulheres, o do diretor da escola local, exemplifica Deborah).
Uma pesquisa do Post entre leitores mostrou que tanto homens quanto mulheres têm interesse em acompanhar o noticiário nacional, mas as mulheres se interessam mais por notícias locais, particularmente sobre escolas, saúde, alimentação e assuntos domésticos.
Assuntos de consumidor
Um grupo de mulheres da redação do Post pesquisou sobre o assunto, este ano, e instou os principais editores masculinos a dar mais atenção aos assuntos que atraem as mulheres, procurar especialistas feministas para serem citadas, dar destaque a líderes sociais femininas e dar o mesmo espaço em fotos para mulheres e homens.
Vários estudos concluem que as mulheres são muito mais habilitadas do que os homens para tomar decisões relativas à rotina doméstica – o que deveria interessar os anunciantes – e planejam de forma mais aprofundada do que os homens, dando maior relevância à editoria de final de semana e aos áudios online.
Deborah defende que as opiniões das mulheres devem aparecer com maior freqüência na página de opinião, que ainda é esmagadoramente masculina. Para a ombudsman, uma outra forma de atrair leitoras é publicar matérias e informações que ressaltem a importância do tema para elas. Muitas matérias do Post são apresentadas a partir de um ponto de vista institucional, diz.
Oportunidades não faltam, especialmente na primeira página, para atrair mulheres com matérias sobre família, relacionamentos e relações entre pais e filhos. A edição impressa do Post faz uma cobertura insignificante destes assuntos, exceto pelas dicas das colunas de moda. No sítio do jornal, as leitoras procuram o blog On Parenting, sobre a criação e educação dos filhos, e a página Smart Living, com dicas de decoração, saúde, jardinagem e culinária. As mulheres também se preocupam com assuntos de consumidor.
Destaque para o basquete masculino
Colocar mais mulheres nas editorias de notícias pode ser mais fácil do que colocá-las nas páginas de esportes, as quais, como o resto do Post, têm cada vez menos espaço para reportagens. As páginas de esportes são predominantemente lidas por homens e as mulheres locais e seus treinadores muitas vezes se queixam que os esportes femininos e as grandes atletas não ganham uma cobertura adequada, tanto no esporte escolar, quanto universitário ou profissional.
A explicação está em uma palavra: futebol. O pessoal da região de Washington gosta mais de futebol do que de qualquer outro esporte e, portanto, os Redskins e o futebol escolar e universitário ganham mais espaço, segundo Emilio García-Ruiz, editor assistente de esportes. Nada tem de surpreendente o fato dos Redskins serem reis locais. Segundo García-Ruiz, os números de leitores mostram que o time ‘caiu um pouco’, passando de ‘incrivelmente popular para extremamente popular’. E as leitoras também acompanham os Redskins. Devido à popularidade que têm com ambos os sexos, o tênis feminino e os esportes olímpicos ganham mais espaço de cobertura do que outros esportes femininos.
Já Dan Uthman, editor de esportes colegiais, acredita que o Post ‘cobre os esportes femininos e masculinos da mesma maneira. Tratamos do vôlei da mesma forma que tratamos de luta livre; do futebol feminino, do futebol masculino. Na filosofia e na prática, é a mesma coisa’. Segundo ele, a editoria de esportes ‘dá maior atenção ao futebol e, talvez, um pequeno destaque maior ao basquete masculino, mas isso é simplesmente para atender a uma maior demanda e interesse por parte dos leitores’.
Otimismo e estímulo
A redação, entre profissionais, divide-se em 60% de homens e 40% de mulheres. Existem várias editoras-assistentes, mas apenas duas editoras formais. E as decisões da primeira página são tomadas, em última instância, por homens. Ainda assim, Deborah se diz otimista com relação às mudanças necessárias para o jornal porque tanto a edição impressa quanto a eletrônica do Post respondem, no fim, a Katharine Weymouth – publisher e mãe de três filhos.