Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Computador não melhora a educação

‘Não há nenhuma prova de que o uso de computadores na escola primária melhora a qualidade da educação, assim como não há nenhum fundamento na ideia tantas vezes divulgada de que o projeto denominado Um Laptop por Criança (OLPC, na sigla em inglês) possa fazer uma revolução no ensino. É puro modismo.’

Essas palavras são de ninguém menos que Nicholas Carr, escritor renomado e especialista em tecnologia da informação (TI), em entrevista exclusiva ao Estado, concedida quarta-feira (2/12), em São Paulo.

Para ele, muitos pais e professores têm essa ilusão de que o computador poderá tornar seus filhos mais inteligentes e acelerar sua aprendizagem. Os jovens devem, é claro, aprender a usar o computador, mas como ferramenta de mil utilidades.

Sobre uma entrevista que concedeu à revista norte-americana Atlantic, de julho-agosto de 2008, em que teria afirmado que o Google está tornando os usuários menos inteligentes, Nicholas Carr retifica: ‘A revista destacou apenas um aspecto. O que afirmei foi que o uso excessivo da internet e, em especial, do Google, está tornando as pessoas cada dia mais estúpidas, por causa, principalmente, da perda da capacidade de reflexão que decorre da falta de leitura de livros e jornais’.

Cloud computing

Entusiasta da computação em nuvem (cloud computing), ele diz que o mundo vive a passagem da worldwide web para o worldwide computer. Nuvem é a metáfora que representa a internet em escala global. Munidos apenas de um browser, podemos baixar tudo dessa nuvem: sistema operacional, conteúdos, aplicativos e o próprio computador virtualizado.

Ao falar em São Paulo na semana passada, Nicholas Carr focalizou a temática de seu último livro: The Big Switch: Rewiring the World, from Edison to Google, que parte da analogia entre as empresas de distribuição de energia elétrica e, de outro lado, a computação em nuvem, mostrando a passagem ocorrida, há um século, da produção de energia em cada empresa ou propriedade para a distribuição das grandes empresas públicas de eletricidade.

É natural e razoável que as pessoas e as empresas ainda não confiem na computação em nuvem e tenham muitas preocupações, em especial quanto à segurança e confiabilidade. Mas esse quadro tende a mudar, segundo Nicholas Carr: ‘Já vivemos muitas situações de baixa confiabilidade e insegurança em nossos PCs. As coisas, entretanto, melhoraram muito e já não nos preocupamos tanto. Milhões de clientes de bancos norte-americanos já convivem com a internet sem grandes problemas. É claro que sempre devemos estar atentos ao risco de fraude e de ataque de hackers, como em qualquer outro ambiente. Mas, com a evolução da computação em nuvem, essa nova internet será mais segura e confiável. Os grandes players de cloud computing já oferecem um ambiente muito mais seguro’.

Mobilidade

A cada dia, o celular se torna um dispositivo de computação mais poderoso. ‘No passado, o telefone era um aparelho usado apenas para falar. Hoje tem numerosas aplicações e a comunicação de voz em breve não será a mais utilizada. O futuro da computação, em minha visão, será em grande parte um aspecto da mobilidade. Isso vai acelerar ainda mais a computação em nuvem, pois quando as pessoas se movimentam elas querem não apenas se comunicar, mas também ter acesso a dados e informações. Isso vale para diversas situações, quando estamos em casa, no escritório, em viagem. Sempre vamos querer acessar a nuvem, a qualquer hora e em qualquer lugar.’

Com a expansão da terceira geração do celular (3G) no mundo, cresce o tráfego de dados de alta velocidade na internet, com volumes cada dia maiores de vídeo baixados de sites como o YouTube. Com isso, a internet tende a sofrer uma espécie de congestionamento generalizado, tornando-se mais lenta, pois o comportamento dos usuários está mudando. Isso já ocorre quando apenas 10% dos celulares no mundo são 3G. Imagine o que ocorrerá quando 50% dos 4,5 bilhões de usuários do celulares migrarem para a terceira geração.

‘Não haverá colapso’

Mesmo diante dessas evidências e de previsões pessimistas, Nicholas Carr não crê nos riscos catastróficos de um colapso da internet em escala mundial, como têm sido previstos por alguns especialistas – entre os quais o vice-presidente da AT&T, Jim Ciccone, e o criador da Ethernet, Bob Metcalfe.

O argumento fundamental contra essa visão pessimista é o crescimento contínuo da infraestrutura da internet – que é um bom negócio para os fornecedores e que não irá mudar. Essa ampliação permanente da capacidade de tráfego da internet dará vazão ao volume sempre maior de dados de alta velocidade.

‘A internet tem provado ser uma rede extremamente flexível’ – diz Nicholas Carr. ‘Assim, mesmo com essa mudança de comportamento do usuário, com o volume de vídeo do YouTube ou a chegada dos filmes em alta definição, eu não creio em nenhuma catástrofe. É possível que ocorram problemas localizados, mas nada parecido com colapso de âmbito mundial.’

******

Jornalista