Em sua coluna de 21/12, o ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, lista respostas de leitores a alguns de seus artigos mais recentes, principalmente o último, ‘Separando terror e terroristas‘ (14/12).
O leitor Stephen M. Flatow – pai de uma menina assassinada pelo Jihad Islâmico em abril de 1995 – diz que a recusa do Times em reconhecer pessoas que deliberadamente assassinam civis como terroristas desafia a lógica.
Outro leitor, Haviland Smith, que foi chefe de uma estação da CIA e comandou uma equipe de contra-terrorismo, concorda que alguns ativistas de resistência (Chechênia) cometem atos terroristas, enquanto alguns terroristas administram hospitais (Hamas). O problema, diz ele, está ‘no rótulo que você dá a uma pessoa, ação ou programa que irá determinar quem concorda com o seu programa, e o irá assinar e, mais importante, que tática você deverá utilizar para se contrapor’.
‘Terroristas globais’
‘O rótulo errado’, finaliza Smith, ‘pode produzir táticas erradas e, em última instância, levar a conseqüências negativas não programadas’, como no Afeganistão e no Iraque. A resposta a essa charada, sugere, pode estar em rotular as ações, e não as pessoas.
Um outro leitor, Amit Sarkar, enfatiza a frase de Hoyt segundo a qual a política do Times é a de não rotular grupo algum como terrorista ‘antes que tenhamos uma plena compreensão de suas dimensões’. Citando o caso de Mumbai, Sarkar destaca que os militantes do grupo Lashkar-e-Taiba – principal suspeito de coordenar os ataques em questão – foram considerados ‘terroristas globais’ anos atrás pelos EUA, pela Interpol e pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Por que ‘maior compreensão’ espera o Times, pergunta.
Mídia erra e sociedade paga
Já o leitor M. Hamud questiona a amplitude de conceitos recomendada pelo ombudsman – ‘se a idéia é a de semear o terror e abalar consciências’… Isso incluiria as ações israelenses, que muitas vezes se encaixam nessa definição? ‘Com certeza você se lembra da bomba de 500 quilos que Israel lançou num apartamento da Faixa de Gaza, das bombas de fragmentação no Líbano ou das bombas de fósforo, também usadas no Líbano’, diz. Se existe uma definição clara de terrorismo e terroristas, termina Hamud, convém aplicá-la com equidade e justiça.
Bruce Dov Krulwich, de Israel, considera que, se uma terminologia moralmente neutra é utilizada para ações moralmente repugnantes, isso reduz o sentido da repugnância. E pergunta: vocês querem que seus leitores acreditem que o assassinato deliberado de civis numa cafeteria seja moralmente equivalente, por exemplo, aos ataques dos soldados norte-americanos contra tropas nazistas para pôr fim à guerra – e que, naturalmente, incluíram a morte acidental de civis?
Se a sociedade for condicionada pela mídia para tratar ações morais e imorais como equivalentes, seja qual for a intenção, então a mídia irá errar e a sociedade irá pagar o preço, termina Krulwich.