Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Roupas, maquilagem e os direitos da mulher

O que terá acontecido com a estudante Geisy Arruda e seu famoso minivestido pink? Nos jornais, ela é notícia de ontem, esquecida e engavetada. Parece que a prometida campanha de lingerie não aconteceu. Possivelmente o público não vai ficar sabendo se ela concluiu o ano letivo e se passou de ano, a menos que alguma revista masculina resolva pagar para ter Geisy em suas páginas – naturalmente, com menos roupa do que o vestido que a tornou famosa.

Geisy, como se viu em entrevistas a jornais e sites, não tem história que justifique uma grande matéria ou perfil em revistas femininas. Nem serve como modelo na escolha de roupas ou maquilagem. É apenas mais uma das milhares de jovens brasileiras que estuda e trabalha, ganha pouco e não hesita em usar roupas que valorizam seu corpo. Nada diferente de tantas outras jovens que fazem o mesmo usando modelos de grife, produtos de maquilagem de primeira linha, e que tratam do cabelo nos melhores salões, como as modelos que ilustram as matérias de moda e beleza de revistas femininas.

Mas, embora fora do padrão imposto na mídia – mulheres mais magras, bonitas e impecáveis no visual –, a edição de dezembro da revista Claudia mostrou Geisy em suas páginas. Ela é a foto que ilustra o artigo de Nicéia Freire (Secretaria Especial de Política para as Mulheres), que coloca foco no que realmente importa: a situação das mulheres no Brasil de hoje.

Um espaço, por menor que seja

Diz Nicéia Freire:

‘Geisy Arruda apenas se vestiu. E a roupa que usou não carece de adjetivos. É rosa? É curto? E o foco da discussão deve ser outro: a quem cabe definir o que é passível de ser considerado `normal´? A quem cabe decidir sobre `comportamento adequado´? Geisy Arruda é uma mulher. Uma mulher brasileira. Uma mulher – como somos todas – inserida em uma sociedade conservadora, repressora e machista e educada por ela. Uma mulher como qualquer brasileira, que tenta construir sua vida, que tem desejos e vulnerabilidades… Ainda bem que há muitas vozes para nos lembrarem que são as mulheres que devem decidir sobre o próprio corpo, suas roupas, suas relações de afeto, seu comportamento. Aprender a conviver com as diferenças e com a diversidade é um exercício que qualquer sociedade que se pretenda democrática precisa fazer cotidianamente. Ou não haverá democracia nem liberdade. Nem para as mulheres nem para homens. E mais do que sobre a pertinência da roupa de Geisy é sobre essa questão de devemos ficar atentos.’

Nicéia Freire diz que o desafio que fica é ‘não esquecer o caso’. Um alerta que serve até para a própria revista Claudia que, em seus primeiros tempos, abria páginas mensais para Carmen da Silva discutir a situação da mulher.

Resta torcer para que o artigo da secretária especial de Política para as Mulheres não seja apenas um arroubo feminista da revista. Espera-se que a situação da mulher volte a ter, em Claudia e nas revistas femininas do mercado, um espaço – por menor que seja – entre as centenas de páginas incentivando o consumo e os cuidados com a forma física como forma de realização plena da condição feminina.

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Jornalista