Este artigo, publicado em 28/12, é a coluna de despedida da ombudsman do Washington Post, Deborah Howell. Tradução de Jô Amado.
‘Meu mandato como ombudsman termina com esta coluna, diz Deborah Howell. Minha esperança para o futuro é a de que os leitores encontrem no Post um jornalismo em que possam acreditar e que o jornal possa participar e enriquecer as inúmeras comunidades desta região.
O jornalismo mudou imensamente desde meus primeiros dias cobrindo polícia. Máquinas de escrever e linotipos são ferramentas antigas e, às vezes, a internet faz com que pareçam de ontem. O que não muda é a apuração de fatos e as análises que informam leitores e ajudam os cidadãos a formarem uma união mais perfeita.
As mudanças tecnológicas abriram as portas de um novo mundo. Minha preocupação é que os jornalistas não estão vinculados aos leitores como naquela época, quando o jornal da cidade era o equivalente à praça pública. Os repórteres daquela época – que, às vezes, nem tinham terminado o colegial – conheciam bem a comunidade, não ganhavam bem e viviam como qualquer pessoa, exceto quando estavam atrás de incêndios ou malfeitores.
Hoje, os jornalistas são bem treinados, têm mobilidade e, principalmente em Washington, são mais elite. Ganhamos melhor, dirigimos carros melhores e temos casas melhores. Alguns, entre nós, pensam que somos ‘um pouco mais especiais’. Mas isso é um engano. Os leitores querem que sejamos espertos e firmes, mas não querem que pensemos que somos melhores que eles. Devemos nos preocupar, e muito, quando os leitores cancelam suas assinaturas. Temos que pensar em maneiras de como impedir que isso ocorra.
Sensação de ansiedade
Os jornalistas devem procurar meios de se integrar mais às suas comunidades e interesses e participar, com os leitores, de melhorias nas edições impressa e eletrônica do Post, transformando-as em fontes indispensáveis.
Nós, jornalistas, devemos ser firmes para enfrentar um prefeito, um chefe de polícia ou o presidente dos EUA, mas também devemos ser suficientemente firmes para aceitarmos uma crítica honesta. A pior parte de meu trabalho como crítica interna oficial do jornal não tem sido na relação com os leitores, embora esta tenha sido, simultaneamente, pouco estimulante e gratificante. O maior desafio está nas queixas de repórteres e editores. Agradeço aos que aceitaram minhas críticas com seriedade. Alguns leitores fizeram reclamações que não compreendi; e eu o lamento. Alguns jornalistas podem achar que fui injusta com eles. Caso isso ocorra, poderão sentir o que sentem as pessoas que julgam que o Post foi injusto com elas.
A atitude defensiva por parte dos jornalistas tende a aumentar devido à incerteza em nosso ofício. Isso mudou no Post, durante meu mandato. Diminuiu a redação e diminuiu o espaço disponível para as matérias. Extinguem-se seções e há uma sensação de ansiedade por toda parte.
O novo ombudsman
Em 2005, a internet já estava nos monitores de todo mundo, mas sua importância não era definitiva para a cabeça de cada um. Agora, é. O futuro do jornalismo é online, ainda que a edição impressa continue sendo, de longe, a maior fonte de renda. Para nosso dia-a-dia, é fundamental que os leitores queiram ler a edição impressa.
O jornal tem um novo editor-executivo, Marcus Brauchli. O Post só teve dois editores-chefes nos últimos 40 anos, Ben Bradlee e Len Downie. A tarefa de Brauchli não é fácil – manter o Post jornalisticamente forte e apertar o cinto na área financeira. Ele merece boa sorte.
E no dia 2 de fevereiro teremos um novo ombudsman – Andy Alexander, ex-diretor do escritório de Washington da Cox Newspapers, um velho amigo e colega. É um dos melhores jornalistas que conheci e está mais do que preparado para a tarefa que deve enfrentar. Manterei contato, através do correio eletrônico, até ele assumir. O Post deve ser parabenizado por manter a função do ombudsman.
O que não mudará
Nestes tempos de incerteza, vale citar uma frase de Bradlee numa recente entrevista com Bob Woodward: ‘Não consigo conceber um mundo sem jornais… Consigo conceber um mundo com menos jornais. Consigo conceber um mundo em que a impressão dos jornais será diferente, a distribuição será diferente, mas continuará existindo uma profissão de jornalismo, um bando de irmãos e irmãs trabalhando juntos, de maneira intensa. Seu trabalho consistirá em contar o que acreditam que seja a verdade. E isso não mudará.’
Também é esse meu desejo fervoroso – assim como o desejo de que os leitores gostem do trabalho dos jornalistas. A maioria das cidades não tem um jornal tão bom quanto o Post. Uma amiga que se mudou disse que a coisa de que mais sente falta é o Post. E ela é uma republicana conservadora.’