Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carta Capital

PARCERIA
Mino Carta

A unicidade premiada, 29/12

‘Esta é edição duplamente especial. De fato, não é somente a última do ano, a resumir-lhe os momentos mais importantes para extrair significados e desenhar possíveis conseqüências. Representa também um prêmio à qualidade de CartaCapital, valorizada pela inédita parceria com The Economist, a mais importante semanal do mundo.

Trata-se de um reconhecimento extraordinário ao cabo de um ano de grandes eventos e de notáveis acertos de uma publicação que prima pelo respeito à língua e pela excelência gráfica. A combinação entre as edições finais de 2008 de The Economist e de CartaCapital é para nós de grande satisfação. Mesmo porque existem claras semelhanças entre as duas revistas.

A primeira diz respeito à prática do melhor jornalismo, baseado na fidelidade canina à verdade factual, no exercício desabrido do espírito crítico e na fiscalização diuturna do poder onde quer que se manifeste. A segunda está na busca de um público capacitado a receber a melhor informação e bem alicerçados elementos de juízo.

The Economist tem tiragem de 1 milhão de exemplares, distribuída em todo o mundo, mas seu reparte para o Reino Unido vai pouco além de 200 mil. O número revela a importância da tiragem atual de CartaCapital, semanal de um país com índices de leitura naturalmente inferiores aos britânicos.

Houve tempo em que a revista Time atingiu 7 milhões semanais e foi apontada como a mais influente. Refiro-me a quatro décadas atrás. The Economist já era porém a preferida dos leitores mais qualificados. Ocorre-me recordar Olavo Setubal, falecido neste 2008, como representante dos freqüentadores remidos das páginas da revista londrina desde aquela época. Já então, não perdia a oportunidade para citá-la em passagens marcantes e às vezes proféticas.

Nossa história é obviamente muito mais modesta. Retornemos, no entanto, ao passado, por mais recente, e verifiquemos como, em campos diversos, conseguimos antecipar desfechos. Ou tomar posturas contra a corrente, opostas àquelas da mídia nativa, disciplinadamente alinhada à sombra do pensamento único, para provar enfim o acerto do nosso anticonformismo.

Por este caminho andaram as apostas na candidatura Lula em 2002 e em 2006, e a resistente denúncia das falcatruas de Daniel Dantas, nosso orelhudo. A premonição do ataque de Bin Laden às torres gêmeas e a condenação da Guerra do Iraque. A previsão da ruína do muro de Manhattan, a explicitar o fracasso da religião do deus mercado, e o relato pontual dos desastres em vão negados do governo de FHC, que quebrou o País em três ocasiões.

Um episódio recente, relativamente menor, não deixa de ser prova da nossa honrosa solidão em meio à mídia nativa. No sábado 29 de novembro O Estado de S. Paulo publicou como furo de reportagem a triste situação vivida por uma juíza carioca e por seu marido advogado submetidos às pressões dos lobistas do Opportunity. A história já fora contada com todos os detalhes, e o apoio de documentos, na moldura de uma reportagem de capa de CartaCapital, edição de 25 de janeiro de 2006.

Por que o Estadão moveu-se com quase três anos de atraso? Porque irrefutáveis informações divulgadas por CartaCapital são recebidas pelo resto da mídia com o já tradicional, estrondoso silêncio. Não se trata de um comportamento normal em outros países, e sim de um fenômeno tipicamente brasileiro, assim como é o pensamento único que se estabelece na nossa mídia, trágico consenso destinado a entorpecer espíritos e obnubilar consciências.

Não é o que se daria na terra da The Economist. Ali uma sociedade mais complexa exige vozes e ecos diversificados para manifestar visões diferentes da vida e do mundo. Aqui quem manda é ainda a minoria privilegiada, graniticamente certa de que, omitida, a verdade factual soçobra como barco furado.

Não me lembro se foi Armando Falcão, ou Antonio Carlos Magalhães, quem disse: o que não foi noticiado pelo Jornal Nacional da Globo simplesmente não aconteceu. Talvez a frase soe redutiva, donde ofensiva, aos ouvidos de tantos outros, órgãos midiáticos ou penas soltas, que se considerem credenciados à tarefa. Claro está, contudo, que a manobra é sempre a mesma e praticada em uníssono: caluda em relação a tudo aquilo que pareça destinado a abalar o poder. Ou, até, de representar uma vaga, remota, palidíssima ameaça.

A unicidade é para nós motivo de grande orgulho.’

 

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