Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Dados pessoais sustentam nova revolução

Ainda que sem dolo, Tim O’Reilly fez um grande mal à internet ao batizar seu evento para debater o futuro da rede como Web 2.0, termo que se revelou apenas mais um rótulo marqueteiro.

Trata-se de uma evolução impossível de pontuar aleatoriamente em números simplesmente porque alguém decidiu que é assim.

David Siegel é sutil ao prever que, quando todos os aplicativos forem hospedados na ‘nuvem’ (ou seja, na web, não em hardwares), chegaremos à fase 4.0.

Outro rótulo, mas Pull – O Futuro da Internet e o Impacto da Web Semântica em Seus Negócios está forrado deles. Alguns, porém, são surpreendentemente bons.

Por exemplo, explicar web semântica como algo ‘inequívoco’, como faz Siegel, é bem didático e esclarecedor. E o que isso significa? Que, se eu procurar informações sobre uma pessoa, as chances de chegar a um homônimo serão bem próximas do zero. Essa é a vantagem de uma estrutura semântica numa rede que, afinal de contas, serve para coletar e organizar informação, pessoal ou não.

É nela que repousa a crença de Siegel em que a economia será revolucionada por armários de dados pessoais com todas as nossas preferências -que poderão, graças à semântica, ser acessadas rapidamente.

Desde que a web é web, ela precisa ser semântica, necessidade básica cumprida com algum louvor – não avançamos por acaso da fase da navegação impessoal em páginas iniciais para a estruturada na busca. Os algoritmos das ferramentas de pesquisa procuram todo o tempo atribuir significado ao conteúdo.

Colaboração

A questão é que o passo definitivo tem de ser dado por milhões de indivíduos, os consumidores e produtores de conteúdo, principais responsáveis pela catalogação inequívoca de seus próprios dados. Ao lado disso, a criação de bancos de dados com todas as nossas transações comerciais e pessoais (já em curso) joga um papel decisivo nesse processo.

Siegel escreve ainda sobre o que seria uma revolução: que a web profunda, ou cerca de 90% da rede, pudesse estar disponível. É um caminho distante, mas que também já começou a ser trilhado.

Hoje, essas informações em boa medida estão escondidas dos mecanismos de busca, mas, aos poucos, começam a ser indexadas.

O centro da atividade on-line é o indivíduo, diz Siegel.

Faz todo sentido numa época em que pessoas são muito mais importantes que instituições. O usuário está no controle, mas, para conhecê-lo melhor (e mais rápido), as empresas terão de modificar radicalmente a forma como se relaciona com ele.

Se a obra de Siegel não é uma visão nova ou revolucionária sobre o momento que estamos vivendo agora, ao menos nos reforça o caráter inevitável da transformação.

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Editor-adjunto de ‘Poder’ da Folha de S.Paulo