Depois de um final de semana digerindo os resultados da Conferência Internacional sobre o Clima, encerrada sexta-feira (18/12) em Copenhague, a imprensa brasileira volta a dar mais atenção aos problemas nacionais.
Para alguém que pautasse sua vida pela leitura de jornais e revistas, esse período equivaleria a considerar que o Brasil entrou em férias enquanto seus líderes discutiam na Dinamarca o estado do mundo.
De volta ao solo, ficamos sabendo, nas edições de segunda-feira (21/12), que o ‘mensalão’ do Partido Democratas no Distrito Federal não afetou apenas a moralidade e o dinheiro público. O esquema tinha como um dos objetivos abrir caminho para a especulação imobiliária e alimentar o apetite insaciável de grandes construtoras.
Um dos principais beneficiários seria o empresário Paulo Octávio, vice-governador também eleito pelo Democratas, figura conhecida nos bastidores da política do Distrito Federal, versão contemporânea dos empreiteiros que enriqueceram com a construção da nova capital há cinco décadas.
Como cupins
Brasília é considerada pela ONU patrimônio cultural da humanidade. Seu Plano Piloto e o conjunto arquitetônico criado pela dupla Oscar Niemeyer e Lúcio Costa foram colocados sob risco, segundo o Globo, pela aprovação, na Câmara Distrital, de um Plano Diretor de OrdenamentoTerritorial, nome pomposo para um ‘liberou geral’ da construção civil.
As construtoras teriam formado uma ‘caixinha’ de 20 milhões de reais para ‘convencer’ os nobres deputados a aprovar tal proposta, o que de fato aconteceu em março deste ano.
O processo de destruição de uma das mais impressionantes paisagens urbanas do mundo só não se consumou porque o Ministério Público Federal considerou ilegais as mudanças e as obras não andaram.
Certos personagens da vida nacional são como cupins: vivem da destruição. A imprensa costuma demonizar os políticos e agentes públicos envolvidos nesses escândalos, mas quase nunca expõe os empresários que estão por trás dos subornos.
Já passou da hora de completar as reportagens: ao lado de cada corrupto, é preciso registrar os nomes dos corruptores.