Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Internautas driblam bloqueio do governo

A internet, para quem vive em regimes repressivos, virou artigo de primeira necessidade. Em países onde as autoridades querem controlar as notícias e as opiniões, a rede tornou-se uma janela para o mundo. No Irã, que vive período conturbado desde o pleito que reelegeu o presidente linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, ela se transformou em verdadeiro campo de batalha entre governo e oposição.

A vitória do partido de situação não foi aceita pela oposição, que alega ter havido fraude na contagem dos resultados. Em meio a violentos protestos contra o presidente, jornalistas foram proibidos de filmar os manifestantes e correspondentes estrangeiros foram expulsos do país. A internet, que já vinha representando papel importante para a expressão dos cidadãos iranianos, tornou-se ferramenta essencial para a oposição ao regime. Além de ajudar na troca de informações e na organização de protestos, ela permite a comunicação com o resto do mundo.

Com as restrições à mídia tradicional, cidadãos munidos de telefones celulares com câmeras saíram às ruas, registraram as manifestações – que resultaram em centenas de prisões e em pelo menos 20 mortes – e as divulgaram em sites como o YouTube. Um vídeo em particular tornou-se símbolo da violência: a morte da jovem Neda Agha Soltan, de 27 anos, com um tiro na cabeça durante um protesto em Teerã.

O governo, acuado pelo poder da rede, tratou logo de bloquear sites de compartilhamento de vídeos, redes sociais como o Facebook e o microblog Twitter. ‘Todos os sites onde as pessoas podem se unir, se conectar e compartilhar notícias e fotos estão bloqueados’, resumiu um internauta iraniano em e-mail à agência de notícias Associated Press. Especialistas em tecnologia acreditam que o governo de Ahmadinejad, entretanto, está fazendo mais do que apenas proibir o acesso a páginas de internet; ele estaria monitorando computadores de onde fotos e vídeos dos protestos no país foram postados na rede e compartilhados com o resto do mundo. Ativistas temem que todos os seus passos online estejam sendo seguidos.

Contra-ataque

Nos últimos anos, o governo vem desenvolvendo softwares para ampliar seu filtro e monitoramento de páginas da rede – acredita-se que um quarto da população de 65 milhões de pessoas tenha acesso à internet. Depois do início dos protestos, no mês passado, internautas passaram também a desenvolver programas para driblar os bloqueios e evitar represálias. Andrew Lewman, diretor-executivo do Projeto Tor, diz que o governo iraniano está aprendendo rápido a controlar a rede. Seu grupo, em Boston, nos EUA, desenvolveu um programa gratuito que permite que internautas, com a ajuda de voluntários em todo o mundo, acessem sites bloqueados e camuflem suas atividades online. Participações do Tor no Irã aumentaram de algumas centenas antes das eleições para milhares no último mês.

As estratégias dos internautas estão, de fato, funcionando. Apesar dos bloqueios, dois pequenos protestos nas últimas semanas contaram com vários ‘tweets’ (mensagens postadas no Twitter) sobre o local das manifestações. Além disso, continuam a aparecer vídeos no YouTube mostrando confrontos entre manifestantes e policiais. Sites de notícias locais colaboram informando sobre detenções de políticos e ativistas de oposição, que normalmente são levados de casa pela polícia. Informações de Rebecca Santana [Associated Press, 24/7/09].