Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalista enfrenta julgamento por usar calça comprida

A jornalista sudanesa Lubna Hussein foi detida no início de julho por usar calças compridas. Ela estava em um café em Cartum quando uma blitz policial prendeu as 13 mulheres que usavam calças, algo considerado indecente pela rígida interpretação da lei islâmica adotada pelo regime sudanês.


Dez das mulheres se declararam culpadas por se vestir de forma indecente e foram punidas dois dias depois, com 10 chicotadas cada. Lubna e outras duas presas decidiram ir a julgamento, onde muito provavelmente serão punidas com 40 chicotadas e multa. A jornalista, que trabalha para o departamento de mídia da missão da ONU no Sudão, dispensou a imunidade que teria por sua ligação com o órgão internacional e convidou ativistas de direitos humanos, diplomatas ocidentais e colegas jornalistas para a audiência marcada para esta quarta-feira [29/7]. ‘Isso não é sobre eu usar calças. É sobre a necessidade de extinguir o artigo da lei que determina o código de vestimenta das mulheres, sob o título de atos indecentes. Esta é a minha batalha. Este artigo contraria a constituição e a própria lei islâmica’, declarou ela.


Imunidade


O juiz Mudathir Rashid adiou o julgamento até 4/8 para que Lubna possa deixar seu emprego para perder a imunidade. A jornalista prometeu pedir demissão imediatamente e agradeceu à ONU por intervir no caso e tentar livrá-la da possível punição. As Nações Unidas haviam lançado mão de uma cláusula de um acordo com o governo sudanês que obriga autoridades do país a pedir permissão antes de dar iníco a um processo legal contra algum de seus funcionários.


O Sudão é bastante rígido quanto à Sharia (lei islâmica) desde que um golpe liderado pelo presidente Omar al-Bashir derrubou o governo eleito e tomou o poder, em 1989. Ativistas e advogados alegam que a implantação da lei no país é arbitrária. Casos que envolvem perturbação da ordem pública costumam ter julgamentos rápidos. As mulheres no Sudão costumam se vestir em trajes tradicionais islâmicos, incluindo um lenço que cobre os cabelos e os ombros; o uso de roupas ocidentais é incomum. Ainda assim, a blitz em um café da capital que é popular entre jornalistas e estrangeiros também foi algo incomum. Informações da CBS News [29/7/09].