Quando se trata do futuro do jornal, uma das primeiras discussões de Ricardo Noblat, em A arte de fazer um jornal diário, toca em um ponto muito importante: ‘Os jovens, principalmente eles, fogem da leitura dos jornais e preferem informar-se por outros meios. Ou simplesmente não se informam. Uma fatia crescente deles adere à internet’ (NOBLAT, 2002, p. 14) [ver, neste Observatório, ‘Crise, preguiça e descaso com o leitor‘].
O advento das novas tecnologias é o responsável por essa discussão, pois hoje há um deslocamento da leitura de jornal impresso para as novas mídias, o que acontece principalmente entre os jovens, que são os primeiros a aderir a esse novo viés. Outro fator que agrava essa discussão é que o jornal em quase nada mudou.
Suas folhas ainda são aquelas que mancham os dedos e as roupas e que também vêm carregadas de erros de ortografia e de grande número de páginas que, pelo seu formato, dificultam até a manipulação do material.
Na visão de Noblat (2002, p. 17), ‘é o conteúdo que vende o jornal. Somente uma mudança radical de conteúdo, aqui e em qualquer outro lugar, será capaz de prolongar a lenta agonia dos jornais’. E essa discussão, de que o jornal já tem data marcada para acabar ou que simplesmente já está acabando, não é de hoje.
Na chegada de cada novo veículo de informação, que mostrava qualidades de transmissão de notícia diferente, essa discussão era retomada. Foi assim com a chegada do rádio, da TV e agora com a chegada das novas tecnologias.
Ética deve prevalecer
Independente disso, o jornal tem uma função em nosso meio, o de qualquer outro veículo. Deve ser ‘um espelho da consciência crítica’ (NOBLAT, 2202, p. 21). E isso também só funciona quando o leitor se encontra diretamente envolvido com a qualidade e o tipo de notícia transmitida – afinal, são os leitores que compram e dão crédito aos jornais.
Dessa maneira, é fácil identificar que os deveres dos jornalistas estão ligados aos direitos dos leitores e respeitando isso é que deve o jornalista agir a favor da verdade, da independência, dos cidadãos e com sua própria consciência. Essas características não só marcam a postura do jornalista como também a do jornal.
Assim deve ser, mas infelizmente não é. Sabe-se que a realidade está longe de fazer parte do dia-a-dia desse e, até mesmo dos outros, veículos de comunicação. Estamos impregnados de manipulação de informação, de interesses e poder. Há, hoje, um descaso com os direitos daqueles que vão ter acesso a essas informações. De uma maneira que quase não nos resta esperança de que essa situação possa chegar a mudar.
Noblat (2002, p. 27) afirma: ‘A ética deve prevalecer até mesmo sobre a obrigação que tem o jornal de revelar o que possa interessar ao leitor.’ Outra característica que, talvez, não seja seguida da maneira que deveria. Noblat cria outra discussão quando cita que a televisão algumas vezes se utiliza de câmeras e gravadores escondidos para o registro de diálogos. Assim, até que ponto pode ou deve ir o jornalista para trabalhar a favor da verdade para a sociedade?
Falta de mudança e atualidade
O jornalista também é alguém que é perseguido pelo tempo, pelo furo de reportagem. A pressa em ter que ser o primeiro ou de apenas ser rápido, traz ao veículo a qualidade duvidosa e isso acontece muito quando falamos de jornais impressos.
A pressa é a culpada, nas redações, pelo aniquilamento de muitas verdades, pela quantidade vergonhosa de pequenos e grandes erros que borram as páginas dos jornais e pela superficialidade de textos que desestimulam a reflexão. Apurar bem exige tempo. Escrever bem exige tempo. E não existe mais razão de jornal ser feito às pressas (NOBLAT, 2002, p. 38).
Para isso o jornalista precisa ter a capacidade de apurar um fato, independente do assunto, pois quem souber escrever sobre várias coisas terá mais chances. Mas a falta de tempo para os jornalistas também é culpa da falta de investimento das empresas; por isso é tão difícil encontrar jornalista especializado e assim um precisa estar preparado para a missão de vários.
Dito isso, mais uma vez se bate na tecla da falta de mudança e de atualidade do jornal impresso. Como exemplo, o jornal televisivo, que nos dá uma notícia ao vivo, com detalhes e informações importantes. No dia seguinte, quando pegamos o jornal impresso, encontramos as mesmas informações que não nos oferecem nenhuma perspectiva diferente.
A questão da imparcialidade
Comodismo? Pode ser. Afinal, registrar a notícia é mais fácil do que descobri-la. Mas o jornalista de verdade tem que estar preparado para duvidar de todas as informações, pois só assim chegará ao ápice do que a informação pode lhe ceder.
Infelizmente, a grande maioria da classe jornalística não gosta de assumir que o leitor dá mais importância à informação correta do que a um furo jornalístico. Mas, preocupado apenas com a sua vaidade, ele somente valoriza o furo.
A relação do jornalista com suas fontes também abre diversas discussões nesta profissão. O jornalista precisa ter as melhores fontes de informação, aquelas em que ele pode realmente confiar e que podem trazer credibilidade para a matéria. Uma dessas discussões abrange a questão da informação em off. Para a fonte essa condição chega a ser vantajosa, mas em muitas vezes isso acaba ‘quebrando as pernas’ do jornalista, que terá mais trabalho para confirmar aquela informação.
A forma de escrever, preocupar-se com o ‘para quem escrever’, entender a melhor forma de passar a mensagem etc., também são outros aspectos que fazem parte do fazer o jornal. Esses aspectos estão ligados diretamente à questão da imparcialidade, algo muito difícil de encontrar na escrita do jornal.
Uma discussão para sempre
Todo esse conjunto e mais alguns pontos é o que faz o jornal diário. Aos poucos, as pessoas estão deixando esse veículo de informação para aqueles que oferecem mais rapidez e facilidade de manuseio. Como toda mídia, o jornal é mais um que apresenta seus prós e contras.
Apesar de todos dizerem que o fim está próximo, vemos mais jornais surgindo em todo o país. E, mais importante que isso, é a inovação tão necessária ao jornal impresso que esses jornais trazem. Em Natal surgiram, em 2009, três novos jornais. O Jornal da Fotografia, um projeto que valoriza as imagens e as reportagens; O Coletivo, jornal semanal de projeto arrojado e fora dos padrões norte-rio-grandense, também um jornal de grandes reportagens; e o Novo Jornal, que é diário e tem como carro-chefe reportagens e artigos interpretativos e opinativos.
Por fim, a discussão sobre o fim do jornal, talvez dure para sempre. E, quando o sempre chegar olharemos para o passado e lembraremos, apenas, das mudanças que se concretizaram. Enquanto houver um jornal impresso, haverá um leitor que comprará e dividirá como diz a estatística, com mais dois leitores.
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Jornalista, Natal, RN