A censura togada voltou a se manifestar. A Folha de S.Paulo teve a sua edição da terça-feira (23/11) censurada por ordem do juiz César Augusto Bearsi, que atendeu a uma ação do réu Erik José Travassos Vidigal.
A interdição durou menos de 24 horas. A matéria foi suprimida do reparte nacional e substituída por outra no clichê que circulou na cidade de São Paulo. Censura de fancaria: o leitor ficou inteirado de tudo, inclusive no tocante ao objeto do ato censório.
Embora este tipo de violência não seja novo e a despeito da sua patética implementação, estamos diante de uma inequívoca rotina de intimidações. Os réus que não querem ver o seu caso impresso em letra de forma – e os magistrados que acolhem seus embargos sobre o noticiário – sabem perfeitamente que numa sociedade democrática é impossível suprimir a circulação de informações. Seu interesse é outro: amedrontar. Sobretudo quando existe a possibilidade de penas pecuniárias.
O Poder Judiciário, que é, em última análise, o defensor do Estado de Direito, está sendo paulatinamente convertido no Brasil na principal ameaça a uma das liberdades fundamentais – a de informar e informar-se
.Decência política
Dias antes da farsesca censura, os meios de comunicação brasileiros começaram a divulgar uma intensa campanha de publicidade com o inequívoco objetivo de melhorar a imagem da Câmara dos Deputados. Além da campanha de anúncios foi distribuída a primeira edição da revista Plenarium (em latim fica mais chique), editada pela mesma Câmara dos Deputados.
Qual o problema da Câmara dos Deputados? Está sendo diariamente desmoralizada pelo noticiário.
Quem está gerando este noticiário desmoralizador ? Os próprios deputados.
Qual o exemplo mais recente desta desmoralização? A chantagem de deputados contra empresários.
Qual o exemplo mais gritante da desmoralização? A obscena maquinação para reconduzir os atuais presidentes da Câmara e do Senado quando terminarem os respectivos mandatos.
Quem autoriza a despesa para a edição da revista e a inserção dos anúncios para limpar a imagem dos deputados? A Mesa da Câmara.
Quem dirige a Mesa? O presidente da Câmara dos Deputados.
Em outras palavras: a Casa do Povo pisoteia os mais elementares princípios de decência política e, com o dinheiro do povo, pretende calar aqueles cuja missão precípua é defender este mesmo povo daqueles que pretendem enganá-lo.
Dona República está envergonhada.