No último dia 23 de novembro, o programa Custe O Que Custar, o CQC, exibido pela TV Bandeirantes, teve seu pior desempenho de audiência desde sua estréia, em 17 de março de 2008. A atração, que vai ao ar às 22h15min e permanece até 00h00, às segundas-feiras, esteve a maior parte do tempo na quinta colocação, atrás da Globo, SBT, Record e Rede TV!. Uma leve melhora ocorreu com o horário sendo estendido até as 00h07, quando atingiu o terceiro posto, atrás apenas da Globo e Record.
Até aí, nada demais, visto que o cenário de disputa por audiência na televisão vem apresentando crescimento, ainda que lentamente, no Brasil. O curioso é que o programa apresentado por Marcelo Tas, Marco Luque e Rafinha Bastos havia recebido, dias antes, o prêmio de melhor programa da televisão brasileira, oferecido pela campanha ‘Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania’, promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados. Além deste, é possível destacar algumas premiações importantes recebidas pelo CQC em 2009, a saber: Prêmio Arte Qualidade Brasil, Prêmio Contigo!, Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte e Troféu Imprensa. Todos estes na categoria de melhor programa humorístico. Também levou o Prêmio About Mídia, na categoria Formato Inovador.
Algo acontece. Um dos melhores programas televisivos obtendo um tragicômico quinto lugar na preferência de sua faixa de exibição merece consideração. Afinal, a que o brasileiro tem assistido? À Luciana Gimenez, com o seu Superpop? À interminável Hebe Camargo? Às comédias norte-americanas da Tela Quente? Será que o jornalismo com humor e criatividade, com produção competente e compromisso social não merece um pouco mais de atenção do público?
Interesse público e interesse do público
O caso do CQC é emblemático, sendo só um exemplo de programa de bom nível distante dos melhores índices de audiência (o programa tem média de seis pontos de audiência, na medição do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, o Ibope). Qualidade de programação e retorno de público nunca estiveram tão afastados. Se for considerada a programação de emissoras periféricas, esta questão torna-se ainda mais evidente. Porém, evite-se neste momento o debate acerca da dicotomia popularesco vs. erudito.
As grandes redes já oferecem conteúdos discrepantes o bastante em qualidade. Vide o fenômeno Zorra Total, o ‘ex-humorístico’ da Globo, dono das noites de sábado desde 1999, mas cujos quadros estão muito aquém do que já foram, principalmente pela linguagem, que além de ultrapassada, repete os velhos preconceitos, abusa de trocadilhos gastos e piadas de mau-gosto. Em pouco lembra o projeto proposto por Chico Anysio 10 anos atrás.
Deve-se pensar o que acontece neste ‘micro-ondas que é a TV brasileira’, como brada Marcelo Tas à frente da bancada do CQC. O interesse público sucumbe crescentemente à predominância do interesse do público, tratado, nesta Fase da Multiplicidade da Oferta, como objeto da esfera da produção a ser capturado da forma mais rápida possível, nesse sentido sendo fornecido, pelos agentes mercadológicos, um conjunto de produtos culturais de fácil assimilação, para consumo simplificado após o desgaste das extenuantes rotinas diárias.
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Respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos; graduando em Comunicação Social – Jornalismo da mesma instituição