A Rede Anhangüera de Comunicação (RAC), em Campinas, foi alvo de um atentado por volta das 21h de quarta-feira (21/1). Segundo a polícia, três rapazes tentaram jogar uma granada dentro do prédio da empresa, depois de quebrar uma vidraça com um martelo, mas o artefato caiu na rua e não explodiu. Ainda segundo os policiais, quem atirou o explosivo provavelmente não sabia manuseá-lo. ‘Quebrou a alça de segurança e saiu correndo, mas o pino ainda estava travado. Uma granada explode oito segundos depois de destravado o pino’, disse o soldado Idalino Gomes da Silva.
Imagens do circuito do circuito de segurança da empresa mostram três rapazes de boné caminhando próximo ao prédio. Em seguida eles se separam e um deles vai até a janela, rapidamente quebra o vidro e arremessa a granada. Logo depois, os três correm para um automóvel Gol estacionado nas proximidades e fogem no veículo. Cerca de três horas depois, de acordo com o jornal Correio Popular, uma telefonista da RAC recebeu um telefonema em que uma voz feminina ameaçou: ‘É apenas o começo.’
Horas antes do atentado, diretores do Sindicato estiveram no prédio da empresa averiguando boatos de demissão de jornalistas e soltaram a seguinte nota:
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‘O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, por sua Direção, assim como a representação regional em Campinas e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) REPUDIAM o atentado contra os profissionais na Rede Anhanguera, tendo em vista o lançamento de artefato de alto poder destrutivo no espaço de trabalho dos jornalistas. Felizmente, não houve explosão, o que evitou uma verdadeira tragédia.
Também as entidades de representação dos jornalistas COBRAM das autoridades competentes a imediata e eficaz apuração do ocorrido, bem como medidas que visem coibir ações como essas que colocam em risco a liberdade de imprensa, o exercício profissional e a segurança dos jornalistas, trabalhadores e cidadãos de modo geral.
Outrossim, e principalmente, as entidades se SOLIDARIZAM com os colegas jornalistas e demais profissionais nas empresas de comunicação da RAC, colocando-se sempre à disposição para a defesa de seus interesses e de toda a sociedade, que deve respeitar as regras da democracia. Não resta dúvida de que se trata de tentativa de censurar ou intimidar os jornalistas, pois, ninguém pratica tal violência contra um órgão de comunicação senão para tentar restringir a liberdade de imprensa.
É um equívoco pensar que ações criminosas como essa possam intimidar a livre manifestação do pensamento, o direito de ofício e a liberdade de expressão.’
Campinas, 22 de janeiro de 2009
Márcia Quintanilha, Diretora Regional/Campinas
José Augusto de Oliveira Camargo, Presidente do SJSP
Sérgio Murillo de Andrade, Presidente da FENAJ
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Sede de jornais é alvo de atentado
Tatiana Favaro # O Estado de S.Paulo, 23/1/2009
O prédio da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), na Vila Industrial, em Campinas, foi alvo de um atentado na noite da quarta-feira. A RAC é responsável pela publicação dos jornais Correio Popular, Diário do Povo, Notícia Já, Gazeta do Cambuí, Gazeta de Piracicaba, Gazeta de Ribeirão, revista Metrópole e proprietária da Agência Anhanguera de Notícias (AAN), do portal Cosmo On Line e da gráfica e bureau GrafCorp.
A ação ocorreu pouco depois das 21 horas. Três homens deixaram um Gol cinza na Avenida General Carneiro, próxima à sede do grupo, e se dirigiram à lateral do prédio, na Rua Roberto Thut. Um dos suspeitos quebrou o vidro de uma das janelas do andar térreo, pelo lado de fora, com uma marreta e tentou jogar uma granada dentro da sala, onde funciona parte da GrafCorp. O artefato não explodiu. Ninguém ficou ferido. Segundo informações da polícia, trata-se de uma granada de uso militar, com alto poder de destruição. A granada bateu contra uma grade de proteção localizada atrás do vidro da janela, que teria servido como escudo, e caiu próxima à sarjeta, na rua de paralelepípedos.
Granadas têm uma alça de segurança que é retirada e pinos que são destravados antes da explosão. Um dos pinos não destravou no momento em que a alça de segurança foi retirada, por isso o dispositivo não explodiu. Além das Polícias Civil e Militar, o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) também esteve no local. O Gate fará a perícia da granada para verificar modelo e potência de destruição.
Uma câmera de segurança instalada perto da portaria registrou a ação dos três homens chegando perto da janela. Dois ficaram a poucos metros do suspeito que quebrou o vidro. As câmeras registraram quando o vidro foi estourado. Após lançar a granada, os três suspeitos saíram correndo em direção ao carro.
Um funcionário que se dirigia à sede da RAC cruzou com os suspeitos em disparada. O porteiro, avisado sobre os homens e alertado por funcionários que estavam no andar térreo sobre um barulho suspeito, chamou o supervisor de segurança, que constatou o vidro quebrado e a granada jogada na rua.
‘A gente ouvia um barulhão, parecia que estavam derrubando a divisória da sala aqui do fundo. Mas durou segundos. Acho que a marreta devia bater na grade de ferro, porque a parede até estremeceu’, disse uma repórter que trabalhava na sala vizinha à que foi atacada pelos suspeitos.
Dos 230 funcionários que trabalham diariamente no prédio, havia ao menos 100 no local. De acordo com o diretor editorial da RAC, Nelson Homem de Mello, além de contar com reforço das rondas da Polícia Militar e da Guarda Municipal pelo bairro, a empresa tomou medidas internas de segurança para preservar seus funcionários.
A Delegacia de Investigações Gerais (DIG) comanda as investigações. O delegado seccional, Paulo Tucci, informou que ao menos quatro testemunhas foram ouvidas ontem. ‘Temos algumas informações sobre possíveis autores, mas ainda são frágeis’, disse. A polícia também vai trabalhar com as imagens da câmera de segurança. ‘Há uma possibilidade de compararmos a imagem dos homens que aparecem no vídeo com quem já tem ficha, mas o material está com qualidade baixa. Apostamos muito nas investigações de campo’, afirmou Tucci.
Andinho
Na quarta-feira (21/1), os jornais da RAC publicaram reportagem sobre o casamento de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, marcado para 6 de fevereiro na Penitenciária de Presidente Venceslau. Andinho foi condenado a mais de 400 anos de detenção e está preso desde 2002, acusado de chefiar um grupo de sequestradores. Ele também é suspeito de envolvimento na morte do prefeito de Campinas Toninho do PT, ocorrida em setembro de 2001. Andinho nega envolvimento no crime.
Entre as hipóteses para o atentado à RAC investigadas pela polícia está a de possível envolvimento de membros do crime organizado ou da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Cerca de uma hora após a ação dos suspeitos, na quarta-feira, uma telefonista atendeu a uma ligação na qual uma voz feminina disse: ‘Isso é só o começo’.