Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Elogio à sordidez

Em sua retrospectiva de final de ano, a ex-revista Veja dedicou página dupla ao Caso Battisti, mas o texto ocupa apenas um oitavo do espaço do panfleto ‘Bem-vindo, terrorista!’ O restante é tomado por uma foto enorme do escritor em, segundo a Veja, ‘alegre convescote com um grupo de parlamentares do PT, PCdoB e PSOL’. A foto foi tirada em 23 de novembro último, sexto dia da greve de fome de Battisti.

Percebe-se claramente que ele está combalido; afinal, antes mesmo de iniciar o jejum, já vinha perdendo forças, por causa da depressão. Vomitava quase tudo, dormia pouco, emagrecera cinco quilos. Outras fotos batidas na mesma ocasião evidenciam ainda mais suas péssimas condições físicas e seu abatimento. Mas a Veja, claro, optou por aquela em que Battisti se forçou a sorrir, para corresponder ao esforço que os senadores e deputados faziam para o animar. O objetivo do ‘alegre convescote’, na verdade, era o de convencê-lo a sair da greve de fome, pois não havia esperança de que seu caso tivesse solução imediata. Nela prosseguir seria cavar sua sepultura, quando tudo caminha para um desfecho em que a Justiça e as leis brasileiras prevalecerão – embora com lentidão exasperante.

Menos credibilidade e assinantes

Deveria ter sido libertado em janeiro de 2009, quando o governo brasileiro lhe concedeu o refúgio que estava apto a conceder. Amargará, provavelmente, um ano e meio de prisão ilegal, apenas e tão somente porque o Supremo Tribunal Federal passa pelo período mais desastroso de sua história. A ditadura militar foi para a lixeira em 1985 e, incrivelmente, temos hoje um prisioneiro político, por decisão arbitrária de Gilmar Mendes e do seu escudeiro Cezar Pelluso. É o que afirma, por exemplo, o maior jurista brasileiro vivo, Dalmo de Abreu Dallari, perto de quem tal dupla é menos do que pó de traque.

Isto é que caberia à imprensa esclarecer – mas, igualmente passando por sua fase mais desastrosa em todos os tempos, ela não o faz. E a Veja tem lugar destacado entre os linchadores midiáticos, ao lado da Folha de S.Paulo e da CartaCapital. Sua sordidez chega ao ponto de escancarar uma foto dessas, omitindo a situação dramática que lhe deu origem! O tipo de jornalismo que ora desenvolve tem como grande inspirador Joseph Goebbels.

Deveria ser um paradoxo, já que pertence a uma família de judeus. Mas, face àquilo em que Israel se tornou, tem tudo a ver: Veja faz lobby pelo linchamento de Battisti tanto quanto mascara e justifica a política genocida que o Estado judeu mantém contra os palestinos. Como consequência, cada vez mais vai perdendo credibilidade, leitores, assinantes e anunciantes. Se já é uma ex-revista do ponto de vista jornalístico, marcha para sê-lo também em termos físicos.

Quem viver, verá.

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Escritor e jornalista