Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Como lesar o assinante

Jornais são impressos para serem lidos, e para serem lidos e respeitados não podem esquecer seu contrato com o leitor cidadão: oferecer todos os dias as notícias mais importantes e atuais.


Pois as edições da sexta-feira (1/1) da Folha de S.Paulo e do Estado de S.Paulo romperam acintosamente este compromisso porque foram entregues aos seus assinantes para serem descartadas, sem os fatos mais importantes.


Combinados, desrespeitando o compromisso da concorrência, os jornalões paulistanos foram impressos no início da noite, na mesma hora, mesmo sabendo que frustrariam os seus leitores mais fiéis – os assinantes – surrupiando-lhes os dois fatos mais importantes da noite: o sorteio da Mega-Sena da Virada, que teve 60 milhões de apostadores; e a passagem do ano, à meia noite, que empolga o mundo inteiro.


Preço alto


Mas a edição do Globo, que é impresso no Rio de Janeiro, a mais de 400 quilômetros de distância, foi entregue na mesma manhã de sexta-feira aos seus assinantes em São Paulo com uma deslumbrante cobertura dos festejos cariocas, o resultado da mega-sena e mais: ao relatar o trágico balanço das chuvas do dia anterior, ofereceu evidências de que a Defesa Civil de Angra dos Reis já estava em alerta desde a véspera ‘porque o solo está saturado com o excesso de chuva’ – conforme declarou o prefeito da cidade (pág. 17).


Qual a lógica de lesar o leitor? Ao invés de rodar em torno das 19 horas, o Estadão e a Folha não poderiam ser impressos pouco depois da meia-noite e distribuídos rapidamente numa cidade deserta? A lógica que imperou nos jornalões paulistas foi a do menor esforço e do desprezo pelo consumidor. É a mesma lógica que leva as empresas jornalísticas a se resignarem ao fim próximo da mídia impressa.


A desculpa de que a passagem do ano seria acompanhada espetacularmente ao vivo e em cores pelas redes de TV é esfarrapada, porque todas as noites os telejornais se antecipam aos diários do dia seguinte e, nem por isso, estes deixam de empenhar-se em oferecer uma cobertura esmerada e completa.


Este jornalismo burocrático, sem alma, tem um preço que já está sendo cobrado pelo público.