Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O risco mínimo

Em maio de 2005, quando houve o violento atentado à bomba ao lado do hotel Sheraton, na cidade de curda, no Iraque, eu estava na Nova Zelândia, ou seja, a quase 16 mil quilômetros, mas não consegui me livrar mentalmente das imagens exaustivamente ‘glorificadas’ e reproduzidas repetidas vezes em quase todos os canais de televisão neozelandeses durante aquele malfadado dia. Os comentários na cidade resumiam-se naquele dia ao atentado e a sensação que tinha é que algo análogo poderia acontecer a qualquer momento.

No ano de 2007, viajei para começar a conhecer o Oriente Médio e tentar entender a lógica daquelas guerras seculares e o terrorismo. Em Israel, país tradicionalmente envolvido em conflitos bélicos, para minha surpresa descobri que a violência urbana era próxima de zero e o único risco em solo israelense era o perigo iminente de uma guerra entre países limítrofes àquela plaga. Estabeleci como estratégia que não deixaria me influenciar pelas notícias e o sensacionalismo reproduzido pela mídia e assim poderia analisar melhor e sem qualquer elemento estranho ao que estivesse observando. Portanto, não assisti telejornalismos, não li jornais e/ou programas de rádio e internet durante este período. Durante todas as minhas idas e vindas ao Oriente Médio, não senti qualquer ansiedade e/ou medo de possíveis atentados terroristas divulgados e alardeados pelos governos sob as bênçãos da mídia internacional.

Divulgação desproporcional

No Egito, há algo impressionante, pois fora da capital, o Cairo, os visitantes somente podem ir a alguns locais em comboios do exército e da polícia que partem pela madrugada e retornam ao cair da noite, pois para eles o ‘risco’ de atentados é iminente e a tensão é indisfarçável. Conversei com várias dezenas de turistas e eles me diziam que estavam, sim, ansiosos e receosos de algum atentado terrorista e estes sintomas já duravam alguns dias antes mesmo do embarque da viagem. Depois destes eventos comecei a desconfiar, com provas cabais, de que fatores externos – mídia – tinham forte influência no estado emocional das pessoas e, nas devidas proporções, os noticiosos locais em cada país que destacavam as cenas de violência urbana e tragédias acabavam, sem saber, contribuindo para o aumento da violência e produziam ansiedade e melancolia nas pessoas.

Estou hoje convencido de que a possibilidade de alguém morrer num atentado terrorista é infinitamente menor do que num acidente de trânsito. Não há coincidência, pois há interesses obscuros na divulgação desproporcional e ‘glorificada’ pela mídia da violência, atentados terroristas e de outras tragédias.

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Advogado e psicanalista, Fortaleza, CE