A semana começou com chuva, outra vez, e os jornais seguem acompanhando a saga das equipes de socorro, agora ocupadas em localizar cadáveres, atender flagelados sem água e comida e evitar o acesso de curiosos e saqueadores aos locais mais atingidos na região serrana do Rio.
No noticiário do fim de semana, destaca-se a manchete da Folha de S.Paulo de domingo: ‘Novo Código Florestal amplia risco de desastre’. Finalmente, depois de a imprensa gastar muito papel na descrição do fato consumado, pelo menos um dos chamados grandes jornais resolve abordar essa tentativa irresponsável de facilitar a ação dos predadores do patrimônio ambiental.
Antes que os apologistas da obviedade se adiantem para dizer que o novo Código Florestal não tem relação com as tragédias deste verão porque ainda está em tramitação, convém lembrar que a própria notícia de que a legislação pode vir a ser flexibilizada estimula a irresponsabilidade.
Além disso, o que faz a Folha é observar, com a ajuda de especialistas, que algumas das causas do grande número de mortos nos deslizamentos e enchentes por todo o país, em todos os tempos, tem sido a ocupação de topos de morros, das margens de rios e de encostas.
Recanto do maestro
O texto de autoria do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e encomendado pela bancada ruralista não considera topos de morros como áreas de preservação permanente, libera a construção de casas nas encostas com mais de 45 graus de inclinação e reduz a faixa de preservação das matas nas margens dos rios, criando a possibilidade legal da ocupação de áreas como a que deu origem ao Jardim Pantanal, na zona leste de São Paulo, que passa todo verão submerso.
No meio dos relatos de dramas sem fim, também deve ter comovido muitos ouvintes e leitores a notícia, divulgada no sábado (15/1), de que o antigo refúgio de Tom Jobim no município de São José do Vale do Rio Preto, estado do Rio, foi devastado por uma das avalanches da semana passada.
Foi no sítio do Poço Fundo que Jobim compôs ‘Águas de Março’, no início dos anos 1970. Obra premonitória: ‘É pau, é pedra, é o fim do caminho…’