O caso virou sensação na internet e dominou as manchetes dos jornais: um mendigo americano teve sua voz de locutor divulgada em um vídeo no YouTube e, a partir de então, recebeu diversas propostas de emprego e um convite do ator Jack Nicholson para participar de um filme. O fenômeno, no entanto, não é de todo positivo, observa o colunista David Sirota [The Huffington Post, 6/1/11].
Em um país no qual a mobilidade de classe social está bem abaixo da de muitas nações industrializadas, Ted Williams, o ex-mendigo, está sendo implicitamente promovido pela mídia como um exemplo de como o ‘sonho americano’ ainda existe. Segundo Sirota, a rede de TV NBC tem insistido que a história de Williams é ‘prova de que a vida nos EUA pode mudar da noite para o dia’. A maior parte da imprensa americana não chegou a fazer este tipo de afirmação, mas o fato de o episódio ter ganhado tanta repercussão nacional implica, de acordo com o colunista, que ela acredita se tratar de algo grandioso.
Ilusão
Este cenário mostra que pelo menos uma parte dos veículos de comunicação tornou-se fabricante de histórias. ‘A ideia de que o sonho americano ainda exista e que cada um pode chegar lá como Ted Williams é, por todas as medidas econômicas possíveis, falsa. Mas esta ideia é incessantemente promovida por políticos e seus aliados na mídia porque convence grandes camadas do público a não abordar questões fundamentais sobre desigualdade, pobreza e estrutura econômica’, escreveu Sirota.
Para completar o ‘triunfo do sonho americano’, o time de basquete Cleveland Cavaliers ofereceu um trabalho de locução em tempo integral a Williams, e ainda lhe propôs pagar o financiamento de uma casa. Detalhe que não foi mencionado por grande parte da mídia: o time é de propriedade do CEO do banco Quicken Loans, que foi um dos maiores bancos a despejar as pessoas de suas casas durante a crise financeira americana.