Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Terra Magazine

NOVELA
Márcio Alemão

O ator que falava javanês

‘A verdade é que não tenho, como diria minha avó, ‘seguido essa peça’ chamada Caminho das Índias. Particularmente não sou e nunca fui fã das tramas de Glória Perez, apesar de reconhecer seu talento para o assunto. Obviamente, até por força da profissão, dei alguns passeios por alguns capítulos.

Alguns poucos atores conseguem o que muitos tentam sem lograr: fazer com que o telespectador creia que está diante de um – seja lá o que for. O ‘seja lá o que for’ pode ser um camponês, um empresário, um lorde, um traficante. Também não nego que certos atores parecem ter sido forjados para alguns papéis, ao mesmo tempo que demonstram total inadequação para outros.

Lima Duarte é um dos muito raros que vai de jagunço a empresário. Alguém imagina o Gianecchini como um matuto do sertão? José de Abreu como um sacerdote? Difícil aceitar. Na verdade eu fiquei muito tempo vendo o José de Abreu ao lado do cigano Ricardo Macchi Igor nos castelos e hoteis de Caras em finais de temporada.

Cheguei a fazer um ranking e o cigano, em algumas edições, ficou na frente em número de fotos e citações. Depois o José assumiu a liderança. Enfim, talvez por conta desse dado em minha memória perversa eu não consiga acreditar que ele seja um sacertode, ficcionalmente falando. E é bom ator, eu sei.

Somo à minha danada memória ‘a coisa do sotaque’. Ele e o Osmar Prado juntos, apenas para citar dois, estão lancando mão de um sotaque interessante.

Não tenho a menor dúvida de que seja o sotaque indiano. Glebas e cáfilas de estudiosos foram consultados e até remunerados para ensinar a todos os atores como falar o português com sotaque indiano. Acredito piamente. Mas a parada deve ter sido dura. Ou não, posto que raras são as vezes que ouvimos alguém falar o idioma em questão.

Italiano qualquer um sabe; árabe, moleza; japonês, fácil; alemão, ingles, até russo dominamos. Mas a ousadia de Glória Perez dessa vez nos levou para o desconhecido mundo de Krishna.

Do sotaque indiano consigo me lembrar apenas de Peter Sellers em ‘Um Convidado Bem Trapalhão’. Ou seja: não tenho uma precisa referência. Vez ou outra acredito ter ouvido Osmar ou José dando uma escorregadinha para a velha levada árabe. Fazer o quê? Mesmo no oriente estou certo que a globalização acabou mesclando sabores, sites, crenças e sotaques.’

 

 

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