Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalismo e vida cotidiana

O trabalho de Sísifo – Jornalismo e vida cotidiana, novo livro do Grupecj (Grupo de pesquisa sobre o cotidiano e o jornalismo), legitima a formação de pesquisadores que atuam, desde de 2002, no Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba, tendo como principal objetivo estudar as relações entre a Sociologia do Cotidiano e o jornalismo, a partir das premissas de autores como Simmel, Weber, Durkheim, Schütz e Michel Mafesoli.

No primeiro livro, Leitura do Cotidiano (João Pessoa, Edições Manufatura, 2002), os pesquisadores foram provocados para escrever, em forma de ensaio, sobre representações sociais que perpassam o cotidiano, instigando-nos a pensar como a banalidade pode apresentar modelos estéticos ancorados nas aparências, emaranhados na complexidade do senso comum, o que, na maioria das vezes, os torna imperceptíveis.

No primeiro volume da Coleção Cotidiano e Jornalismo foram discutidos temas não convencionais, para a Sociologia (em maiúsculo) como a sociabilidade nos churrasquinhos, vida cotidiana e prática jornalística, entre outros. Assim, se faz necessário ressaltar a postura dos jovens pesquisadores do Grupecj que receberam o desafio de escrever sobre temas ‘realçados’ por uma antropologia da vida cotidiana e suas relações com as teorias do jornalismo e das sociologias.

Neste segundo volume, os pesquisadores procuraram unir a ‘escrita livre’ aos métodos da pesquisa empírico-conceitual, com o objetivo de investigar as relações entre a vida cotidiana e a vida profissional dos jornalistas sindicalizados, da cidade de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba.

Como demarcação prévia do campo de atuação jornalística em João Pessoa, foram distribuídos cem questionários nas redações das emissoras de rádio, TVs e jornais impressos. Destes, apenas 77 foram respondidos de forma correta. Mas apenas 18 foram considerados compatíveis com os critérios metodológicos adotados para transformá-los em entrevistas.

A maioria dos questionários respondidos refletiu o desinteresse da categoria em falar sobre exercício profissional, como podemos ressaltar nos seguintes itens: a) falta de aprofundamento nas respostas, b) não respondendo de forma clara algumas questões; c) respostas incoerentes com o enunciado da questão; d) respostas inadequadas ao propósito da pesquisa.

O desafio dos pesquisadores foi transformar as ‘deficiências’ das respostas aos questionários em algo positivo, ou seja, buscar nas ‘sobras’ do material coletado matéria para a transformação em ensaios sobre a percepção do jornalista profissional sindicalizado de João Pessoa sobre o exercício do jornalismo e a sua relação com a vida cotidiana.

Como orientador, provoquei a construção de um texto não-linear, o que poderia se configurar como a simples transcrição das entrevistas, o que, em termos metodológicos, perderia o valor científico e estético. Portanto, os pesquisadores tiveram que apresentar os ‘resultados’ da pesquisa considerando os seguintes objetivos: a) transformar o resultado das entrevistas em ensaio; b) verificar as relações entre o exercício da profissão de jornalista e as Teorias do Jornalismo, c) tornar compreensível para o leitor as relações entre a Sociologia do Cotidiano e a Teoria do Jornalismo; d) organizar as entrevistas em forma narrativa.

O resultado é empolgante. Fiquei surpreso, mais uma vez, ao perceber que os instrumentos da pesquisa não podem ser considerados apenas stricto sensu, pois não há tempo e espaço pré-determinados para a realização de pesquisas, quer seja na graduação, quer seja na pós-graduação.

Leitores, pesquisadores experientes e iniciantes, jornalistas profissionais, professores de Jornalismo e estudantes dos Cursos de Comunicação Social, vão encontrar uma atitude metodológica: como pensar as fronteiras (fenomenológicas, etnológicas ou imaginárias) entre o exercício profissional do jornalismo e a vida cotidiana.

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Coordenador do Grupecj, Departamento de Comunicação Social – Universidade Federal da Paraíba