Poucas vezes as vozes da direita americana foram tão massacradas na imprensa quanto na última semana, quando os EUA tentavam entender por que um jovem de 22 anos matou seis e feriu 14, incluindo uma deputada democrata, em um ataque a tiros em Tucson (Arizona). Mas a reação extremada de formadores de opinião de esquerda e do centro, que acusaram a direita nos mais altos tons de ter criado o clima de discórdia que encorajou o ataque, é também um testemunho da força e influência que os conservadores detêm nos EUA de hoje.
Críticas vieram de vários lados. Uma frase muito repetida foi a de um xerife do Arizona, Clarence Dupnik, que disse que o estado havia se tornado ‘a meca do preconceito e racismo’ e que apresentadores de TV e rádio deviam repensar suas atitudes. Ele não se referia só a jornalistas regionais, mas também a personalidades midiáticas icônicas da direita como Rush Limbaugh e Glenn Beck, cujas mensagens iradas contra democratas e esquerdistas são reverenciadas por legiões de fãs.
Entre os políticos, uma das vítimas preferidas dos protestos foi a ex-governadora do Alasca Sarah Palin, queridinha dos ultraconservadores do Tea Party. Ela mantinha na internet um mapa com sinais de tiro ao alvo nos distritos em que congressistas votaram a favor da reforma da saúde da Casa Branca – inclusive o da deputada Gabrielle Giffords, que levou um tiro na cabeça no ataque em Tucson.
A crescente mídia conservadora
Também entraram na lista de provocadores os políticos favoráveis ao porte de armas, como a deputada Michele Bachmann, que já afirmou que os americanos devem ser ‘armados e perigosos’. ‘Alguns na esquerda realmente passaram do limite com as acusações’, disse à Folha Brian Darling, analista da conservadora Fundação Heritage, em Washington. ‘Vimos a pior face da política. A retórica só piorou depois da tragédia.’
A troca de acusações entre a esquerda e a direita está longe de ser nova. Mas se a história americana é recheada de momentos de palavras pesadas, a eleição do presidente Barack Obama em 2008 deu vazão a discursos de extremismo particular. Além disso, a expansão das redes sociais e de outras formas modernas de comunicação aumenta exponencialmente o alcance da retórica explosiva, ampliando sua base de influência. Paul Krugman, comentarista do New York Times, afirmou que ‘já esperava’ que algo como o ataque em Tucson acontecesse por causa do clima político atual: ‘Tenho uma sensação ruim desde o fim das campanhas [à presidência] de 2008.’ E ele responsabiliza as vozes da direita que foram demonizadas nos últimos dias. Quer ouvir piadas sobre tiros a funcionários do governo ou decapitações de jornalistas do Washington Post? ‘Ouça Glenn Beck ou Bill O´Reilly’, diz Krugman.
A interpretação generalizada é de que a parcela do país que se sente ameaçada por Obama foi adotada com facilidade pela crescente mídia conservadora. Mais de 37% dos americanos adultos se dizem republicanos. Os democratas são 33,7% (dados do Instituto Rasmussen neste mês). Entre republicanos e radicais há vasta distância. Mas não é à toa que a conservadora Fox News se tornou líder na TV a cabo. Ou que o jornal mais lido seja o direitista Wall Street Journal.
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Correspondente da Folha de S.Paulo em Washington