‘Na manhã desta sexta-feira, o Último Segundo destacava notícia realmente importante. ‘Congestionamento em São Paulo bate recorde’, dizia o título. Mais uma vez, porém, as informações eram incompletas em detalhes essenciais. Não havia qualquer explicação sobre os motivos que levaram ao recorde de congestionamentos. O texto, atribuído à Agência Estado, simplesmente relatava números do trânsito na cidade.
Os dados eram, ainda por cima, atrasados. A nota, publicada às 9h42 e atualizada às 10h10, trazia informações das 9h. Sabe-se que apenas meia hora já faz uma grande diferença – para pior ou para melhor – na situação dos engarrafamentos na cidade.
Além disso, a notícia não fazia remissão para o serviço de trânsito do iG ou para o site da Companhia de Engenharia de Tráfego. Ao tempo em que as notas sobre o trânsito eram feitas manualmente, acabavam sendo mais bem atualizadas.
O drama do jornalismo é que quase sempre implica pressa, o que só aumenta o risco de que sejam cometidos mais erros. No entanto, é obrigação garantir os dois aspectos: velocidade e apuração precisa.
iG se confunde com nacionalidade de suposto traficante
A capa do iG mostrava hoje, às 12h04, o seguinte título: Preso em São Paulo – Suposto traficante espanhol é achado no Brasil.
Na capa da seção Brasil, porém, o suposto traficante designado como mexicano. Afinal, é mexicano ou espanhol?
Já no texto da notícia, só é possível saber a nacionalidade do sujeito no quarto parágrafo, onde ele aparece como sendo mexicano.
Até as 21h23 de sexta-feira, o iG não havia publicado nenhuma correção.
***
Título do iG descreve erradamente a eutanásia como ‘execução de mulher’ (5/2/09)
O Último Segundo destacava hoje, às 11h48, em seu canal Mundo a chamada ‘Berlusconi estuda decreto para evitar execução de mulher’
O termo ‘execução’, porém, segundo o dicionário Aurélio, não se aplica a esse contexto.
A notícia trata da eutanásia, não de execução.
iG Esportes: a hora da qualidade
A editoria de esportes do iG é, compreensivelmente, a que rende os maiores índices de audiência dentro do Último Segundo, a área jornalística do iG. As razões são evidentes: o assunto ainda mobiliza as paixões, principalmente dos homens e dos mais jovens, ou seja, de uma parcela importante dos internautas.
Os investimentos do iG nessa área ainda são, a meu ver, pouco intensos. A editoria de esportes é, no iG, uma das que menos produz conteúdo próprio. O número de repórteres é pequeno. As expectativas em relação à ocorrência de notícias exclusivas e à produção de reportagens de qualidade superior são baixas.
No entanto, todos sabem que o esporte é um setor extremamente fértil de boas histórias, que é preciso apenas dedicação para obtê-las e apresentá-las com a riqueza que têm. É preciso investir na reportagem esportiva com o mesmo grau de exigência existente em relação a qualquer outra área, como política, assuntos internacionais, economia ou cultura.
O problema é que a cobertura de esportes frequentemente é contaminada por uma mentalidade atrasada, uma acomodação, uma rendição à rotina. Sem produzir seu conteúdo, Esportes do iG apoia-se grandemente em material de agências, ou seja de conteúdo feito por terceiros. Por essa via, acaba se rendendo à ‘cultura’ do ‘jornalismo esportivo’ mais chão. Reinam aí o compadrio, o ‘puxassaquismo’, as briguinhas tolas, os clichês, as perguntas repetitivas e óbvias. Os textos são em geral péssimos.
Como não poderia deixar de ser essas ‘reportagens’ apresentam muitos erros de acabamento: informações erradas, falhas de português, incoerências, textos truncados. Com frequência, esses erros são publicados, como se não houvesse prévia leitura cuidadosa. A nota ‘Em amistoso, Palmeiras B leva goleada de time mineiro’, por exemplo, foi alvo de críticas de internautas por apresentar dois parágrafos quase iguais logo no topo.
Diz um leitor, paciente e generoso: ‘Não entendi a matéria publicada hoje no portal iG. Vocês repetiram o primeiro e o segundo parágrafo, trocando poucas palavras. Veja abaixo. Também acho que vocês deveriam ter um canal para que pudéssemos corrigir os erros no site (Orlando)’.
O iG Esporte já mostrou que deseja, pode e é capaz de produzir furos em temas relevantes, como na recente reportagem sobre operações de Gilberto Cipullo, vice-presidente do Palmeiras, no mês de janeiro. É preciso, porém, tomar as decisões adequadas, acreditar na qualidade e providenciar as condições.
O que o iG Esporte pode ser
O campo está aberto. A concorrência na área de esportes é em geral muito fraca, pois faltam autoestima e ambição. Aos poucos, com iniciativas firmes, aproveitando as oportunidades e emulando os bons exemplos, é possível ir criando um outro ambiente. O público vai perceber e apoiar. Os patrocinadores, quem sabe, também venham.
Investir em conteúdo próprio e fugir da rotina não quer dizer ter menos paixão pelo esporte. É entendê-la de forma mais completa, mais humana, corrompida e elevada. A aventura tragicômica do esporte só pode ser de fato alcançada pela estatura dos grandes narradores, alguns dos quais estão aí nas redações, desestimulados, sub-aproveitados e atolados em carga exagerada de trabalho automatizado e sem sentido.
É hora de usar todas as armas para mostrar os meandros e desvios da paixão esportiva, não para deixá-la sufocada ainda mais pela mesmice e a indiferença diante dos valores maiores do ofício, como se o jornalismo esportivo não tivesse que ser, antes de tudo, bom jornalismo.
É importante que a mídia esportiva se modernize junto com o material de sua cobertura. A eventual decadência do interesse do futebol no Brasil, se houver, não é razão automática para que a cobertura esportiva se renda ao fatalismo acomodado. Ao contrário, se um assunto decai, o jornalismo pode ser uma das razões.
Além disso, abrem-se oportunidades para os bons repórteres e editores retratarem a situação. Se, ao contrário, o esporte se moderniza e fortalece, o jornalismo deve acompanhar essa tendência.
As fragilidades do iG não chegam a destoar de um quadro geral de baixa qualidade do jornalismo esportivo. Nesses momentos, talvez seja mais fácil mudar os paradigmas, afirmar a diferença pela qualidade. Não é fácil, mas é possível. Nesse caso, a ira de Bonvicino e os cuidados de Helena terão sido, a seu modo, virtuosas.
***
Mídia esportiva no iG (4/2/09)
Nesta semana, dois artigos no iG chamam a atenção para o jornalismo esportivo. No domingo, o colunista Régis Bonvicino publicou o texto ‘O futebol é canalha’. O blogueiro do iG Esportes, Alberto Helena Jr., respondeu com ‘Meu Bonvicino’.
Bonvicino diz que ‘[o jornalismo esportivo] se limita a cobrir, diariamente, as rotinas dos clubes. A mídia, no Brasil, consegue o feito de ser diária e ‘eterna’ ao mesmo tempo: todos os dias cobre as mesmas personagens, do mesmo modo – monótono e vazio.’. Acrescenta que ‘não há análises, reportagens sistemáticas. Não há coragem em romper o silêncio e denunciar a corrupção do futebol, de dirigentes e de jogadores’.
Afirma que ‘o futebol brasileiro é pior do que a sociedade brasileira; e a mídia esportiva é, ainda, pior do que o próprio futebol’. Faz pensar.
Em resposta, Alberto Helena Jr. argumenta que ‘o fígado envenena o pensamento, levando o articulista a cair na vala comum do que ele mesmo estigmatiza: o preconceito, no sentido mais literal do termo.’. Completa Helena: ‘Na minha área, há os ingênuos, os espertos que buscam audiência, os apaixonados que enxergam o ofício como um canal para expressar seu amor por este ou aquele clube, os safados que buscam audiência para conseguir patrocínios, o diabo, além daqueles que entendem o futebol como um reflexo da sociedade humana, uma dramatização do cotidiano.’
O futebol está ‘moribundo’ e a mídia esportiva é totalmente ‘pelega’, diz Bonvicino. Acho que ambos os blogueiros, na verdade, concordam mais do que divergem. Amanhã, trato de algumas decisões que é preciso tomar com rapidez.’