A partir de terça-feira (31/1), a presidente Dilma Rousseff faz sua primeira viagem oficial ao exterior. O destino escolhido é a Argentina – uma agenda carregada de simbolismo tanto pela aliança estratégica que se espera dos dois maiores parceiros do Mercosul, como pelo fato de o país vizinho também ser governado por uma mulher.
Depois dos compromissos protocolares, nos encontros reservados que manterão, a presidente Dilma poderia muito bem sugerir à sua colega Cristina Fernández de Kirchner que atentasse para a forma como o governo brasileiro se relaciona com a imprensa do país. Aqui a oposição é feroz, jornais e revistas às vezes se arvoram em partidos políticos, mas, ao fim e ao cabo, não se conhece qualquer manifestação direta do governo brasileiro no sentido de calar o trabalho da imprensa ou a atuação do jornalismo crítico.
Não se pode dizer o mesmo da Argentina. Ali, desde os conflitos entre produtores rurais e o governo, em 2008, os dois principais jornais – Clarín e La Nación – são considerados pela Casa Rosada como inimigos públicos. ‘Sou vítima de um fuzilamento midiático’, chegou a dizer, certa feita, a presidente Cristina. E o revide não demorou. São notórias as represálias adotadas contra a mídia de oposição, notadamente contra o grupo Clarín, com direito a fiscalizações extemporâneas e a piquetes de sindicalistas próximos ao governo nas plantas impressoras dos jornais.
Ley de Medios
Ao contrário do Brasil, onde as verbas publicitárias oficiais são diluídas entre milhares de veículos de comunicação, na Argentina o protecionismo é mais que evidente. No ano passado, quase metade da publicidade oficial veiculada nos meios impressos foi destinada aos veículos do empresário Sergio Szpolski, unha e carne com o governo, e para o jornal Página 12 – um combativo diário surgido em 1987 e que de uns anos para cá se entregou às benesses do oficialismo.
Na TV aberta, o Canal 9 recebeu dois terços do total das verbas oficiais de 2010, em clara contrapartida aos programas de apologia ao governo que exibe. Como pano de fundo, as eleições presidenciais de outubro, quando Cristina deverá tentar a reeleição.
De sua parte, a Argentina tem a nos exibir uma Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual – a Ley de Medios – avançado marco regulatório primeiramente submetido a consulta pública, depois discutido e aprovado nas duas Casas do Congresso Nacional, em outubro de 2009.
Dois países tão próximos e tão distantes.