A imagem dele é marcante. Sua atuação idem. Sempre emitindo opinião após as reportagens mais polêmicas, terminou por ser precursor de um estilo. Inventou um bordão que caiu na graça de todos: ‘Isto é uma vergonha!’. Até pouco tempo gozava de muito prestígio comigo. Hoje, Boris Casoy, jornalista e apresentador do Jornal da Band, se revela uma decepção, merecedor de descrédito.
Boris mostrou sua real face no último dia de 2009. Uma face quase sempre presente em nossa elite, que parece optar eternamente pela mesquinhez, ao invés de assumir um papel positivo no país. Ao comentar uma mensagem de fim de ano dada por dois garis, o jornalista deixou à mostra a sua opinião sobre os profissionais responsáveis por tentar manter as ruas menos sujas. Sem vergonha alguma.
Para Boris, garis nada mais são que representantes da mais baixa escala do trabalho. A revelação do preconceito de Casoy só foi possível graças a uma daquelas infelicidades – ou felicidades, para quem não suporta atos de tal natureza – do acaso: o áudio equivocadamente aberto durante o intervalo dos programas. Ou seria a vingança de alguém cansado de ouvir as manifestações de escárnio social de um homem que sempre transmitiu uma outra imagem ao público brasileiro? Após o acontecimento, o jornalista foi ao ar pedir desculpas. Creio ter sido em vão.
Respeito na presença da consciência
Bem, o que dizer sobre isso? O ser humano carrega em si o preconceito por natureza, tentam contemporizar alguns; a história traz inúmeros exemplos do olhar preconceituoso de certos grupos sobre outros. Este tipo de argumentação não é raro de ser lido ou ouvido por aqueles que parecem interessados em defender o direito de discriminar ou simplesmente depreciar seus semelhantes. Ainda que seja algo intrínseco ao ser humano, por que deveríamos nos resignar ante ele? Se desejarmos uma sociedade sempre em direção à civilidade, devemos aceitar conviver pacificamente com ato tão vil como o preconceito, seja ele qual for? Em minha opinião, jamais!
Fui educado em meio a pessoas simples e também junto a pessoas de condição social favorável. Entre patrões e empregados, fui aprendendo a conviver e a respeitar todos. Mas também a ser averso aos preconceituosos, aos que se enchem de soberba ao olhar o outro e acreditar que ele não é merecedor de respeito por causa de sua cor ou pertencer a determinado grupo social.
Cheguei à conclusão de que se anseio por uma sociedade mais digna, menos ordinária, devo ter consideração tanto com a senhora ou o rapaz responsáveis pela limpeza do chão onde piso, quanto com o funcionário de 1° escalão da empresa que trabalho. Respeito que devo ter não somente quando estiver ao alcance dos olhos e ouvidos de todos à minha volta; mas também conservá-lo na presença única de minha consciência.
Hipócritas merecem indiferença
No caso específico de Boris Casoy, ele apenas demonstrou o caráter de grande parte da elite brasileira, que se aboleta no cume de seu desprezível orgulho e lança o olhar de asco para com a pobreza e quem dela faz parte. É uma gente hipócrita, que se quer defensora da justiça e faz belos discursos indignados em público, mas que quando esta entre seus iguais querem mesmo é distancia do ‘povo’, representante do baixo escalão da humanidade.
De hoje em diante, sempre que estiver assistindo à Rede Bandeirantes ou qualquer outra emissora onde esse senhor estiver se manifestando, mudo o canal ou desligo a TV. Hipócritas são merecedores da indiferença. E eu, como entusiasta de uma sociedade baseada no respeito, tenho vergonha de gente como ele.
***
O pedido de desculpas de Boris Casoy (01/01/2010)
******
Funcionário público e graduando em Ciências Sociais, Vila Velha, ES