O governo gaúcho, da tucana Yeda Crusius, rejeitou uma proposta para que a TV educativa local, a TVE, retransmita a TV Brasil, do governo federal, para renovar contrato em que passará a pagar para veicular programas da TV Cultura – emissora ligada ao governo tucano de São Paulo.
Abrir mão da parceria com a TV Brasil significará para a TVE a perda de pelo menos R$ 500 mil em produção de programas ao ano, além de investimentos para migração para o sistema digital.
A emissora gaúcha fica ainda obrigada a mudar de sede, já que o prédio que ocupa há 30 anos e que pertencia ao INSS foi comprado pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação), responsável pela TV Brasil.
A presidência da TVE afirma que não há necessidade de acordo com a TV do governo federal, porque ‘está muito bem servida’ pela parceria com a TV Cultura. Mas, como a emissora de São Paulo decidiu cobrar pela retransmissão, a TVE passará a desembolsar em torno de R$ 20 mil ao mês.
‘Nosso momento atual é investir em programação local. Queremos reorganizar uma fundação que busca desesperadamente sua autossustentação’, afirmou o presidente, Ricardo Azeredo.
Dentro do governo gaúcho, a opinião é que a TV Brasil é um instrumento do governo Lula. Aliados de Yeda citam como exemplo o viés governamental de programas jornalísticos, como o Repórter Brasil, que precisa ser retransmitido pelo menos uma vez ao dia pelas parceiras estaduais.
Negociação fracassada
Segundo o diretor jurídico da EBC, Luís Henrique Martins dos Anjos, a proposta feita à TVE inclui repasse de cerca de R$ 500 mil para produção de material jornalístico e programas que seriam incluídos na grade nacional da TV Brasil e a possibilidade de utilizar a tecnologia da emissora federal na migração para o sistema digital.
O diretor afirma que a TV Brasil já paga pelos direitos de transmissão dos principais programas da TV Cultura – como o Roda Viva e infantis –, que a emissora gaúcha poderia levar ao ar sem custos. Além disso, mais de 50% da grade de programas é aberta para produções locais.
‘A única explicação que eu encontro é a orientação política’, diz ele, que é responsável pela instalação da EBC no RS.
Martins dá o exemplo da TV educativa de Minas Gerais – outro governo tucano –, que tem parceria com a TV Brasil e recebe para produzir quatro programas que vão ao ar em todo o país. ‘Não é normal que todas as TVs educativas estejam erradas’, afirmou ele.
O diretor afirma que a TV Brasil tem interesse em pagar em torno de R$ 400 mil para que a TVE produza um programa infantil em rede nacional.
‘A governadora fez um anúncio de que [a TVE] ia mudar de local. Mesmo assim, nós vamos reiterar a proposta’, diz.
A presidente da EBC, Teresa Cruvinel, vai enviar um novo convite ainda neste mês.
Com o fracasso das negociações com a TVE, o Rio Grande do Sul passa a ser o único Estado em que a TV Brasil está sem parceria para retransmissão.
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Sistema digital alcança apenas três capitais
Criada no fim de 2007 pelo governo Lula para servir como rede pública, a TV Brasil pretende alcançar, em sistema digital, 60% do território nacional nos próximos sete anos.
Atualmente, o sistema digital da emissora alcança só as cidades de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Brasília. Neste ano, o sinal digital vai ser ampliado para Porto Alegre (RS) e Belo Horizonte (MG).
Segundo o diretor jurídico da EBC, Luís Henrique Martins dos Anjos, o plano de expansão inclui chegar a todas as cidades com mais de 100 mil habitantes até 2016 –quando o sistema analógico deverá ser desligado, conforme o decreto da TV digital.
Pesquisa Datafolha encomendada pela EBC em agosto mostrou que a TV Brasil ainda é majoritariamente vista (64%) em casa por quem tem antena parabólica ou TV por assinatura. O mesmo levantamento mostrou que um terço da população conhece a emissora.
Na TV analógica, a TV Brasil funciona por meio de convênio com canais educativos locais ou com TVs de universidades federais. O Rio Grande do Sul é o único Estado em que ainda não há parceria, apesar de uma universidade local estar produzindo conteúdo jornalístico.
Uma das principais críticas feitas à TV Brasil se refere à baixa audiência da emissora, que estaria na zona do ‘traço’.
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