Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A mídia e a formação da consciência da mulher

[do release da editora]

A jornalista Dulcília Buitoni analisa a representação da mulher na imprensa feminina brasileira, mostrando qual ideologia foi transmitida em mais de um século e em que medida a imprensa, como fator cultural, difundiu conteúdos que influíram na formação da consciência da mulher brasileira.

Existe mulher de verdade nas revistas femininas? Como a mídia impressa vem mostrando a adolescente, a adulta e a mulher madura? Quais modelos são mais frequentes? A extensa pesquisa de Dulcília Buitoni revela que a imagem da mulher na imprensa feminina brasileira é refletida segundo as conveniências da sociedade. O resultado desse minucioso trabalho está em seu livro Mulher de papel – A representação da mulher pela imprensa feminina brasileira, lançamento da Summus Editorial. Nessa clássica obra do jornalismo, a autora analisa a representação feminina na mídia impressa, destacando padrões e tendências em mais de 150 anos de páginas dedicadas à mulher.

A segunda edição – revista, atualizada e ampliada – chega quase trinta anos depois da publicação do primeiro livro, com mais dois capítulos redigidos para completar a linha do tempo da imprensa feminina brasileira. A obra aborda desde a mocinha casadoira e pouco alfabetizada de 1880 até a celebridade siliconada de 2001, mostrando como meninas, jovens e adultas estiveram e estão sob a influência poderosa da mídia impressa especializada. ‘Passadas algumas décadas, continuo a procurar mulheres de verdade nas revistas femininas, embora saiba que publicidade e consumo lidam principalmente com mitologias’, revela a autora.

Fruto de uma tese de doutorado desenvolvida em 1980, o livro traz um levantamento histórico, incluindo informações e imagens a respeito dos diversos periódicos para mulheres na imprensa brasileira. ‘Trata-se de uma amostragem representativa, servindo para dar uma ideia bem concreta do que se fazia no século passado até chegar a nossos dias’, afirma Dulcília, que pesquisou a iconografia da área durante quase dois anos para compor um livro de abordagem histórica pioneira.

‘Armadilha linguística’

Em que medida jornais e revistas difundiram conteúdos modeladores da consciência da mulher brasileira? Baseando-se no contexto sociocultural de cada época – de meados do século 19 até o começo do século 21 –, a autora mostra que a mulher ainda tem muito que fazer para deixar de ser representação e virar realidade. A reprodução de páginas e capas de algumas revistas permite visualizar as transformações na construção dos modelos de mulher.

Em uma análise detalhada desse contexto, a autora identificou as formas de representação da mulher em cada década, como a ‘mulher-celulóide’, símbolo do processo de americanização durante a II Guerra Mundial; a ‘dona de casa insatisfeita’, que sofre a febre consumista dos anos do desenvolvimento; a ‘liberada’ e a ‘marginal’, orientadas para a fruição do sexo e da libido aquisitiva ou para a participação nos grupos e nos movimentos políticos; e, enfim, a ‘segura e sexy’, que é voltada para o consumo e o culto às celebridades, quando o corpo assume o posto de elemento essencial na construção da imagem das pessoas.

Ao concluir a obra, Dulcília descreve a ‘armadilha linguística’ pela qual o espírito das leitoras é aliciado para, afinal, consumir os objetos que são mera embalagem de valores do neocapitalismo.

O livro compõe, assim, um grande mosaico da imprensa feminina, sendo fundamental para estudantes e pesquisadores de várias áreas e para todos que se interessam pelas relações entre gênero e comunicação.

A autora

Jornalista formada na primeira turma da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Dulcília Helena Schroeder Buitonitrabalhou principalmente em revistas. Foi repórter, redatora e editora. Fez mestrado e doutorado, ambos sobre a imprensa feminina, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP). Iniciou a carreira docente nos cursos de Jornalismo e Editoração da ECA-USP em 1972. Em 1981, passou a atuar na pós-graduação, tendo orientado dezenas de dissertações e teses. Pesquisadora no campo das Ciências da Linguagem, estuda temas que vão de narrativa jornalística a fotografia, documentário e imagem na internet, passando ainda por relações de gênero e comunicação. Livre-docente em 1986 e professora titular de Jornalismo da ECA-USP em 1991, foi professora visitante da Universidade Autônoma de Barcelona em 1993 e 2000. Atualmente, é professora do Mestrado em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero.