Clark Hoyt, ombudsman do New York Times, dá continuidade, esta semana, ao tema que abordou na semana passada: um ataque político sofrido por Caroline Kennedy no processo de escolha do substituto de Hillary Clinton ao Senado americano. O gabinete do governador de Nova York teria vazado críticas a Caroline e o Times, após cair na estratégia, publicou matéria criticando o vazamento. Hoyt afirma que o caso trouxe à tona uma questão de extrema relevância para o jornalismo atual: a instantaneidade da internet e a disputa veloz por informações estariam prejudicando os valores do jornalismo tradicional, que preza pelo respeito à precisão e ao contexto.
O primeiro artigo publicado pelo Times, em janeiro, trazia acusações, por meio de citações de uma ‘fonte anônima’, de que Caroline teria tido problemas com impostos e com uma babá estrangeira. O segundo denunciava a manobra do gabinete do governador para desacreditá-la. O ombudsman considerou correta a segunda matéria, mas achou que faltou nela um mea culpa pelo primeiro texto.
Os responsáveis pelas normas do sítio do diário consideraram, entretanto, que Hoyt criou um falso dilema entre velocidade e qualidade. ‘Escolhas ruins acontecem em todos os tipos de pressão por conta do tempo’, opina Jonathan Landman, subchefe de redação encarregado das operações online, citando como exemplos a cobertura sobre a guerra no Iraque – que, segundo ele, deveria ter sido mais cética – , e a do cientista nuclear Wen Ho Lee, acusado de espionagem. ‘É claro que trabalhar rápido aumenta a possibilidade de erros. Mas a velocidade também é um valor, o de levar as informações às pessoas quando elas querem e precisam. Um jornalismo de qualidade sempre envolveu uma combinação de velocidade, eficácia, autoridade, descoberta, seriedade, humor e outros fatores que, às vezes, são conflitantes. A questão é encontrar o equilíbrio certo’.
O ombudsman reconhece que há vantagens e desvantagens no meio impresso e no online. Na rede, há o imediatismo, mas poucas etapas de edição, menos tempo para investigação e dependência maior em fontes que podem não ser tão confiáveis. Há a habilidade de corrigir erros rapidamente, porém não há como evitá-los de se espalhar pelo mundo.
Avião no rio
Se o caso de Caroline foi um exemplo do que pode dar errado, a cobertura do pouso do avião no rio Hudson, em Nova York, foi um exemplo do que pode dar certo. Dois editores ficaram sabendo ao mesmo tempo que um avião estava no rio – Ian Trontz, por meio de um telefonema do repórter Al Baker, e Patrick LaForge, através de um post no Twitter. Em poucos minutos, a informação estava no sítio. Trontz começou a pautar jornalistas: mais de 20 repórteres e fotógrafos estavam na cena, nos hospitais da área, em Charlotte – destino do avião –, e na casa do piloto, na Califórnia. Ainda assim, houve discordâncias. Baker ficou sabendo que se tratava de um avião pequeno; a TV mostrou rapidamente que não era o caso. Havia um rumor que se tratava de uma filmagem. ‘Rapidamente, descobrimos que era algo real’, contou Trontz.
A cobertura do caso teve três frentes na internet e na rede: Ken Belson cuidou do blog do diário, Liz Robbins escreveu um longo artigo para o sítio, e Robert D. McFadden focou na reportagem para a edição impressa do dia seguinte. O sítio tirou vantagem da interatividade, convidando testemunhas a contar o que viram e a enviar fotos – 17 delas foram postadas, inclusive uma tirada de um celular, no momento em que o avião atingiu as águas do Hudson.
Segundo editores, os padrões de qualidade devem ser considerados do Times como um todo – não importa se a notícia sairá no meio impresso ou online. Ainda assim, é impossível negar que as duas plataformas carregam linguagens que muitas vezes são diferentes. ‘Editores, em geral, não falam diretamente com os leitores nos jornais’, comenta o editor-executivo Bill Keller. ‘Quando o fazem, é sobre algo sério. Já a internet é um ambiente que encoraja uma relação [dos jornalistas] com os leitores, em um tom mais informal e pessoal. Para o bem e para o mal’.