Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

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Marili Ribeiro

Carnaval vira exemplo de eficiência brasileira

‘Sete executivos de conglomerados da propaganda mundial vieram curtir o carnaval na Marquês de Sapucaí. Antes de embarcar para o Rio, eles enfrentaram, em São Paulo, uma maratona de 253 reuniões, agendadas em dois dias de ‘matchmaking’, ou encontros de relacionamentos. Do outro lado da mesa estavam 31 produtoras de publicidade brasileiras, que tiveram 20 minutos para mostrar seus talentos. A ideia desses encontros, patrocinados pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), é incentivar a venda de serviços para o mercado externo.

Embora no setor de produção de filmes as iniciativas de matchmaking estejam mais desenvolvidas – graças à parceria com a Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro), que, por meio do projeto FilmeBrazil realizou em quatro anos 302 peças, totalizando uma receita de R$ 62,915 milhões -, a Apex-Brasil quer ampliar o leque de ações e resolveu aproveitar o carnaval para atrair novos contatos. Buscou parcerias com entidades empresariais de diversos segmentos da economia, onde há potencial de negócios lá fora, e montou um camarote na avenida do samba carioca para receber os convidados selecionados por meio da parceria.

‘O carnaval é um atributo brasileiro que mostra a nossa capacidade de organização. É um evento gigantesco, repleto de tecnologia. No ano passado, por exemplo, uma escola pôs em desfile uma pista de skate em tempo real, o que é inacreditável’, defende o presidente da agência governamental, Alessandro Teixeira. ‘Temos de aproveitar a ocasião para mostrar do que somos capazes e fechar negócios’, acrescenta.

Com inédito investimento de R$ 3 milhões, a Apex trará 105 convidados de 23 países, entre empresários, executivos e formadores de opinião, que, entre as delícias das festas momescas, vão visitar, em grupos organizados por afinidades, polos de excelência do País, como o de tecnologia e informática, em Belo Horizonte; o de máquinas e equipamentos agrícolas, no Rio Grande do Sul; o Projac, que é a fábrica de novelas da Rede Globo, no Rio; e ainda outros centros de produção de carnes, têxteis e sapatos.

A iniciativa faz a Apex remar contra a maré, em particular a que prega o descolamento da imagem do Brasil que gera riqueza, da do Brasil do samba, suor & carnaval, considerada uma caricatura do País. Para o presidente da Apex não há porque não aproveitar o bônus que o carnaval gera e, com isso, acrescentar à fórmula a prospecção de negócios.

Grandes empresas, como a cervejaria AmBev, por exemplo, há muito fazem isso. Foi no badalado camarote da Brahma no Rio que August Busch IV, o principal herdeiro da então maior cervejaria do mundo, a americana Anheuser-Busch, foi assediado pela primeira vez por um de seus futuros compradores, Marcel Telles. No ano passado, já associados à belga InBev, o trio fundador da AmBev, entre eles Telles, comprou a Anheuser.

‘Muitos países usam suas festas populares e simbólicas para gerar negócios. Vi isso de perto na China à época da Festa do Dragão. Ao levar convidados para lá, eles difundem uma imagem de eficiência que abre canais para realização de contatos comerciais’, prega Teixeira. ‘Só nunca entendi por que aqui nunca fizemos isso de forma sistemática.’

Os convidados vão conhecer o carnaval por dentro, em visitas a galpões e com demonstrações de como se põe em pé esse espetáculo gigantesco. No caso da Apro, que vem montando eventos em parceria com a Apex-Brasil há quatro anos, o momento é de romper com a mensagem implícita de que filmar aqui custa pouco.

‘Não queremos ficar com a imagem de baratinhos’, diz a presidente da entidade, Leyla Fernandes, sócia da empresa Produtora Associados, embora ela mesma reconheça que produzir comercial no Brasil sai, em média, 30% mais em conta do que rodá-lo na Europa ou nos Estados Unidos.’

 

 

 

CAMPANHA
Patrícia Campos Mello

Nos EUA, xenofobia chega à TV

‘‘No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam o emprego, mas, apesar dos milhões de desempregados, nosso governo continua trazendo 1,5 milhão de trabalhadores estrangeiros por ano para pegar empregos americanos. Será que o seu pode ser o próximo?’ Essa propaganda está sendo veiculada nas TVs americanas, bancada pela Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano, entidade que reúne 13 associações de classe com mais de 500 mil membros.

Com o desemprego projetado para ultrapassar os 8% neste ano, organizações protecionistas como a coalizão estão apostando tudo no lobby do ‘hire American’ (contrate americanos) para a aprovação de leis que restrinjam a entrada de trabalhadores estrangeiros legais e apertem o cerco aos ilegais que estão no país.

Na semana passada, esses grupos contra trabalhadores estrangeiros comemoraram uma vitória: o pacote de estímulo aprovado pelo Congresso inclui uma medida que dificulta a contratação de funcionários estrangeiros com visto H-1B (de mão de obra especializada) pelos bancos que estão recebendo recursos do programa de resgate.

Mas isso é só o começo, alertam especialistas. Segundo Bob Sakaniwa, diretor da Associação Americana de Advogados de Imigração, há uma série de propostas para restringir e dificultar a concessão de diversos tipos de visto de trabalho para estrangeiros, inclusive uma proposta de moratória. ‘Este Senado está mais aberto à inclusão de emendas, o que, em tempos de recessão, é perigoso porque podem surgir muitas emendas contra trabalhador estrangeiro – como a do H-1B, que foi aprovada, e a do E-Verify, que não foi’, diz.

O E-Verify é um mecanismo que obrigaria todas as empresas a verificarem se seus empregados estão nos EUA legalmente e, caso contrário, demiti-los, sob risco de serem punidas. A medida era uma das emendas propostas no pacote de estímulo, mas não passou. Mesmo assim, continua tramitando no Congresso.

Ira Mehlman, diretor de Mídia da Federação Americana para Reforma da Imigração, pede o endurecimento das regras para entrada de trabalhadores estrangeiros. ‘Há um nível de 20% de fraudes nos vistos H-1B, estrangeiros fraudadores pegando muitos empregos em computação que deveriam ir para americanos’, diz Mehlman. Ele, como muitos outros, defende a implementação do E-Verify. ‘Mais de 15% dos empregados em construção são ilegais. Para quem você acha que vão todos esses empregos de infraestrutura do pacote de estímulo?’, diz Mehlman.

A Coalizão diz que a ‘importação de trabalhadores estrangeiros’ leva a uma discriminação contra trabalhadores americanos mais velhos e rouba oportunidade de muitos estudantes americanos, que teriam acesso a esses empregos, não fossem os estrangeiros.

Rick Oltman, porta-voz da Coalizão, não revela o custo da campanha de mídia, mas diz que ela vai permanecer no ar por vários meses. ‘Não queremos que a porteira se abra ainda mais, mas as elites políticas estão nas mãos das grandes empresas, que querem a mão de obra barata. Precisamos aumentar a fiscalização para os estrangeiros entenderem que não têm mais emprego aqui, e voltarem para casa.

As estimativas oficiais são de que os Estados Unidos têm hoje cerca de 12 milhões de imigrantes, entre legais e ilegais. Mas entidades anti-imigração estimam que o número chegue a pelo menos 20 milhões de imigrantes.

As cláusulas de hire American estão causando o mesmo tipo de crítica que as emendas buy American que entraram no pacote de estímulo. A lei assinada por Obama determina que todo ‘ferro, aço e produtos manufaturados’ usados em projetos do pacote seja produzido nos EUA ou a países signatários do Acordo de Compras Governamentais, como Canadá e União Europeia, e o México, que é parte do Nafta.O Brasil não é signatário e continua vetado.

A lei foi denunciada como ‘protecionista’ por vários governos e o Brasil pode acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC). As restrições ao H-1B atingiriam muitos brasileiros que entram no país com esse visto. Segundo os últimos dados da Secretaria de Segurança nacional, foram 2.688 em 2006. Os campeões são Índia (123.567), China (26.258) e Canadá (13.412).’

 

 

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