O debate sobre a comunicação sempre levanta questões como as inovações tecnológicas, novas plataformas, convergência, velocidade etc. Devido à complexidade e imprevisibilidade dessas questões técnicas, o quadro que se desenha é sempre meio difuso, ora alarmante, com a possível falência dos jornais impressos, ora efusivo, com os livros digitais. No entanto, esquece-se ou ignora-se, nesses debates, a importância do conteúdo veiculado nessas plataformas, como se ele já fosse uma questão resolvida ou pudesse ser simplesmente relativizada.
Parece que as respostas para os problemas do mercado da informação partem sempre do pressuposto da técnica – é nela que vamos encontrar a solução. Os grandes jornais precisam se tornar grandes provedores on-line de notícias, a TV deve ser interativa e investir na qualidade de transmissão, o rádio, migrar para a internet e agregar novas linguagens. Dificilmente vemos alguém bradar mudanças no conteúdo, nos moldes como as notícias são construídas para então serem entregues ao cidadão. Será que não há nenhum problema nesse ponto? As informações oferecidas são suficientemente claras e completas para o público e o problema reside só na tecnologia usada para consumi-la?
Que a técnica atende e serve aos interesses das grandes corporações e que o domínio dela é essencial para o controle do enorme mercado e poder diretamente ligados à comunicação, todos nós sabemos. Aliás, é esse papel crucial que colabora para que importância da renovação do conteúdo seja diminuída frente à técnica. O problema está em todos os grupos – não só os patronais – pensarem dessa forma e aceitarem esse falso debate monotemático.
Parece filme repetido
Há problemas na forma como as notícias chegam até a população? Há. Isso ninguém nega, nem os críticos, nem os próprios agentes produtores da notícia, a não ser que tenham a cara de pau de dizer que alcançaram a perfeição. A queda de audiência dos telejornais é porque a imagem não está em HDTV ou o público não está contente com aquilo? Quem deixa de comprar jornal na banca é porque prefere ver a mesma notícia, com a mesma foto, na tela do seu computador?
O Jornal Nacional, principal telejornal do país e devido a isso o meio de comunicação de maior impacto, vem, constantemente, perdendo poder e audiência. As notícias em flash dos telejornais, texto frio, imagens ‘neutras’, ausência de comentários são as principais características dos telejornais, todas aplicadas com maestria pelo JN. O porquê desse formato perder força é de se pensar.
Culpam-se as novelas, que ‘entregam’ o ibope em baixo, o crescimento da internet. Agora, a homogeneidade das notícias, a falta de aprofundamento, a descontextualização não seriam questões de conteúdo, que também deveriam ser pensadas? Talvez o público esteja cansado de ver sempre o mesmo padrão, de ouvir o ‘boa noite’ no mesmo tom. Assim como a política no Brasil se torna desinteressante pelos repetidos casos de corrupção e falcatruas, aqueles que noticiam esses problemas, com o sorriso igual ao da notícia anterior, não estão isentos de perderem a graça, de ficarem parecendo filme repetido.
Consumo efêmero, desinteressado
É preciso perceber que não é necessário mais esperar o apresentador falar os fatos do dia para que se saiba quais são eles. Os telespectadores querem – e precisam – entendê-los. Que tal falar francamente o por que os corruptos não vão para a cadeia? Usar o poder da imagem para informar, criticar e debater os problemas sociais? Ao invés de repetir cenas, apresentar dados e gráficos que, quando não têm um valor prático, só servem para reforçar o senso comum ou amortecer a consciência do telespectador?
A comunicação via bytes tem alguns problemas que precisam ser pensados. Ainda não se tem uma linguagem específica para ela, salvo exceções, e a semelhança de conteúdo online com as outras mídias é muito grande. A velocidade é impervalorizada, precisa-se ser rápido porque o outro é mais. A avalanche de informação não produz pessoas mais informadas, que entendem e conhecem mais o mundo. Por quê?
A superficialidade das notícias dos grandes portais demonstra o quão se precisa pensar na qualidade das informações oferecidas. Quanto às exigências tecnológicas, está tudo ali, imagens, som, hiperlinks, animações. Mas o consumo dessas notícias é cada mais efêmero, desinteressado. Lê-se tudo, apreende-se quase nada.
Uma questão proeminente e necessária
A revolução propalada pelo Twitter é um exemplo do quão paradoxal é a situação da comunicação online. São destinados 140 toques, o equivalente a duas linhas, para se dar uma notícia. Quem fazia cara feia para as notícias rasas dos grandes jornais, deve entrar em parafuso. Saramago disse que a comunicação entre o homem vem regredindo de tal forma que logo voltaremos aos grunhidos. Provavelmente, ele tem alguma razão.
Antes que me acusem de louco, sei que o Twitter não é o jornal de amanhã. Mas o frisson causado por ele, e a quantidade de links ‘twittados’ em sua tela representam o quanto na internet a informação pode desinformar. Está provado que o acesso ao conhecimento não significa, necessariamente, a sua aquisição. As novas tecnologias não vão produzir pessoas mais informadas, nem que dominá-las será o novo grão-duque da comunicação. O conteúdo, mesmo quando vai ser manipulado, é uma questão cada vez mais proeminente e necessária de ser discutida. Pois sem ele, tecnologia é mera pirofagia.
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Estudante de Jornalismo, Unesp, Bauru, SP