O Google registra mais de 900 mil páginas com a palavra maçonaria. Entre as 100 primeiras, a maioria se refere a textos que tem o objetivo de explicar o que é a entidade e quais são seus valores. No rol de materiais sugeridos sobre a instituição, o buscador aponta para um vídeo produzido pela National Geographic que conta a história, inclusive desmistificando as famosas teorias da conspiração e de que os membros da organização realizariam cultos satânicos.
O interesse da mídia pela maçonaria não é recente. Os rituais secretos sempre foram bons pontos de inspiração para escritores, cineastas e jornalistas. Em 1937, o filme Horizonte Perdido conta a história de quatro jovens que ficaram perdidos no Tibete. Um deles encontra um livro com todos os segredos da organização. Em 1986, O Homem que queria ser rei, de John Hutson, mostra a história de duas pessoas, que após se reconhecerem como irmãos maçons, juntam-se para se tornarem líderes de um pequeno país chamado Kafiristan. Já nos últimos anos, uma quantidade enorme de obras foi publicada. O destaque é o livro mais recente de Dan Brown, O Símbolo Perdido. O escritor americano faz um passeio por Washington para mostrar mais uma saga do professor de simbologia Robert Langdon, que é obrigado por um psicopata a encontrar um suposto tesouro enterrado na capital americana.
O mérito de Brown é, mesmo em uma obra ficcional, não reproduzir discursos estereotipados de que a maçonaria prega o satanismo. Ao contrário do que era feito há alguns anos, ele consegue construir um texto atraente sem se deixar levar por um mundo imaginário rodeado de preconceito. A todo o instante, o autor relembra os princípios defendidos pelos maçons como liberdade e fraternidade universal. Em outros, ele chega a narrar como é um ritual de iniciação maçônico e explica a razão de cada detalhe. No capítulo 38, por exemplo, Brown cita a câmara de reflexões. ‘Essas salas são lugares frios e austeros onde um maçom pode refletir sobre a própria mortalidade. Ao meditar sobre o caráter inevitável da morte, um maçom adquire valiosa compreensão sobre a natureza efêmera da vida (…) Essas câmaras contêm os mesmos símbolos: uma caveira e ossos cruzados, uma foice, uma ampulheta, enxofre, sal, um papel em branco e uma vela’, diz Dan Brown por meio do seu personagem Robert Langdon.
Maçonaria na televisão
Atualmente, tornou-se comum as emissoras de televisão fazerem reportagens em lojas maçônicas com o representante daquela casa vestido como em um momento do ritual. Ainda assim, a preocupação da maioria dos repórteres está na curiosidade sobre quem são os maçons e se as teorias conspiratórias atribuídas a eles são verdadeiras ou não. A visão limitada por parte dos jornalistas é justificável. Organizações como a maçonaria está ligada a fatos narrados em textos de mais de dois mil anos. Para compreendê-los é fundamental também entender um pouco de história. O que pode ser uma dificuldade para repórteres, editores e produtores que se ocupam essencialmente com o imediato.
Há dificuldade de avançar em reportagens que tratem sobre as nuances da ordem. Na imprensa brasileira, por exemplo, os ideais maçônicos impulsionaram Hipólito José da Costa na criação do Correio Braziliense. No debate promovido, em 2008, para tratar sobre a chegada da família real ao Brasil, o Observatório da Imprensa, em um texto de Lilia Diniz, apontou que em uma viagem aos Estados Unidos, Hipólito teve contato com instituições democráticas e filiou-se à maçonaria. ‘Era uma saída para trocar idéias em um mundo controlado’, cita o artigo.
No documentário ‘Os Mistérios da Maçonaria’, da National Geographic, fica evidente que grandes temas são desafios que podem ser superados a partir da contextualização. O vídeo mostra a história de Hiram Abiff. O mestre construtor, filho de uma viúva, era o responsável pela construção do templo de Salomão. Com interesse em descobrir a palavra secreta que lhes dariam supostamente poderes divinos, três homens assassinam Hiram por não revelar seu maior segredo. O caso é uma alegoria que ilustra a fidelidade. Cada um dos assassinos representa a ignorância, a intolerância e o fanatismo.
O caso de Hiram, na antiguidade, é pano de fundo para o surgimento da maçonaria provavelmente no século 17. Formada por hábeis construtores, eles se serviram da vida do mestre do templo para criar símbolos e uma filosofia para orientar seus irmãos.
A abertura gradual qualifica a maçonaria, hoje, como uma sociedade discreta e não mais secreta, como antigamente. Qualquer pessoa com internet banda larga, por exemplo, pode ter acesso àqueles que são os seus principais desígnios. O que seria algo ruim se transforma em positivo, pois é com a popularização gradativa que os demônios desaparecerão e as pessoas poderão entender o que realmente é a ordem. Para os maçons, o desafio é não perder a sua identidade.
******
Jornalista, especialista em jornalismo político, professor