‘Pense no Haiti, reze pelo Haiti’, dizia a velha canção de protesto da dupla Caetano-Gil. Agora o mundo inteiro está pensando no Haiti, rezando pelo Haiti, solidário com o Haiti. Ainda não se conhecem os números, as vítimas do terremoto podem ser 100 mil ou 50 mil. Na quinta-feira (14/1) foram enterrados os primeiros sete mil em covas comuns.
‘O Haiti é aqui. O Haiti não é aqui’, continuava o refrão. O Brasil deixou de ser o Haiti há muito tempo. O Brasil está no Haiti para ajudar o seu povo a criar um Estado. Os 14 soldados mortos e outros quatro desaparecidos nos remetem a 2004, quando nosso país decidiu participar da Missão da ONU para a Estabilização do Haiti e nossos xiitas foram às ruas para denunciar a adesão à ‘conspiração imperialista’.
A morte da doutora Zilda Arns Neumann em Porto Príncipe, quando dava uma aula a um grupo de religiosos sobre a Pastoral da Criança, nos obriga a repensar nosso conceito de políticas públicas adicionando a imperiosa noção de solidariedade. Esta é uma tarefa para mídia.
Sem choro
Não se trata apenas da multiplicação dos pães, trata-se da multiplicação das consciências – ou das almas, como queiram. A nova tragédia haitiana comove o mundo e pode ajudar a despolitizar nossos melhores impulsos. Inclusive certos impulsos religiosos.
Um pouco mais de humanidade produzirá milagres. Um mínimo de convergência pode maximizar nossa convivência. Graças à belíssima figura de Zilda Arns a mídia encontrou outro tipo de unanimidade e está conseguindo singularizar uma catástrofe sem perder de vista suas proporções apocalípticas.
Na quinta-feira (14) não apareceu ninguém chorando nas reportagens do Jornal Nacional, porém milhões de brasileiros ficaram arrasados.
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