A imprensa brasileira embarcou rapidamente na crise diplomática internacional que supostamente ameaçou se instalar no Haiti quando as forças armadas dos Estados Unidos ocuparam o aeroporto de Porto Príncipe.
Não era nada, apenas problemas operacionais típicos de um país mergulhado no caos, sem profissionais e equipamentos para as tarefas essenciais, sem autoridades para referendar critérios de administração de passageiros em trânsito.
A chegada constante de aviões com suprimentos, grupos de voluntários e medicamentos, de várias partes do mundo, sem coordenação na origem, agravava a situação no aeroporto semidestruído.
Segundo os jornais, um avião da Força Aérea Brasileira que levava um hospital de campanha, com médicos e remédios, demorou 24 horas para obter permissão de aterrissagem.
O episódio, somado ao fato de as tropas americanas terem instalado um perímetro de segurança sob seu controle em torno do aeroporto, levou alguns comentaristas apressados – e loucos por mais uma crise – a interpretar a operação corriqueira como um sinal de que as tropas brasileiras haviam sido desbancadas.
Pau para toda obra
No fim de semana, jornais brasileiros especulavam que os Estados Unidos pretendem enviar 10 mil soldados e retirar do Brasil o comando das forças da ONU.
Na sexta-feira (15/1), alguns sites informativos já haviam esclarecido que a ONU considerava importante reforçar a presença militar em Porto Príncipe, por causa de violências praticadas nas favelas da cidade por gangues de criminosos que haviam fugido de prisões destruídas pelo terremoto.
Já havia sido noticiado, então, que a Minustah, força de paz internacional, continuaria sendo comandada por militares brasileiros, e que os americanos ajudariam a organizar a ajuda humanitária e ofereceriam equipamentos para restabelecer condições mínimas de funcionamento da infraestrutura do país.
No entanto, quem ouviu programas jornalísticos de rádio no fim de semana ainda era submetido às especulações dos palpiteiros de sempre, plantonistas do telefone celular, que ficam permanentemente à disposição da imprensa para dar pitacos sobre qualquer coisa.
Do Programa Nacional de Direitos Humanos ao desempenho da economia, da crise no Haiti à questão climática, nada escapa a esses urubus oportunistas, especializados em fazer as coisas parecerem piores do que já são.