Michael Heizer, artista norte-americano, é autor de obras gigantescas esculpidas em regiões desertas de seu país. Uma delas, de 1969, intitulada ‘Double Negative’, escavada em uma montanha em Nevada, em Mormon Mesa, é fruto da remoção de mais de 200 mil toneladas de solo com escavadeiras, que criou uma fenda. A sensação é estranha e a intervenção de Heizer lembra-nos a devastação resultante da atividade das mineradoras na paisagem. Embora a obra seja de grande proporção, diante da grandiosidade do lugar – as fileiras de montanhas –, ela parece muito pequena.
Outras obras descomunais de Heizer estão em ‘Dia: Beacon’, museu no vale do Rio Hudson que abriga apenas obras de grandes dimensões. Lá estão trabalhos de Richard Serra, que lembram cascos enferrujados de navios abandonados; telas imensas de Andy Warhol e instalações de Dan Flavin, entre outros. Vê-se no museu, por exemplo, uma pedra, de dezenas de toneladas, encravada em uma moldura-caixa de aço ‘pendurada’ em uma parede como um quadro. Provocação do artista: algo extremamente forte, poderoso, pronto para explodir as amarras artificiais colocadas pelo artista-homem.
Heizer contextualiza suas obras na chamada ‘Land Art’. Faz uso da natureza para experimentar, resgatar a memória da terra, mostrar a impossibilidade de ‘civilizá-la’, contê-la, manipulá-la. Basta atentar aos sinais que ela emite o tempo todo, sem levar em conta o que se chama de humanidade. Daí o medo profundo, concreto, pesado e também muito espiritual presentes na arte de Heizer.
Diante das duras imagens dos deslizamentos de terra em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e do terremoto no Haiti, essas ideias, como um relâmpago, nos fazem pensar.
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Jornalista, professor da ECA-USP e diretor-geral da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje)