Chega de Haiti, chega de sofrimento! A palavra de ordem pode ter sido outra, menos afirmativa, tipo ‘O Haiti não é aqui’. O resultado é inconfundível: a edição de segunda-feira (18/1) do Jornal Nacional foi concebida para um público que vive em outro planeta, em outro tempo, talvez janeiro de 2011 ou 2012.
Seis dias depois da maior catástrofe de que se tem notícia nas Américas, o mais importante telejornal brasileiro, referência internacional e vitrine do Padrão Globo de Qualidade, expurga sem qualquer cerimônia a tragédia do Haiti do primeiro bloco e a chuta para o encerramento.
Não foi acidente nem problema com o satélite – o equipamento estava lá, emitiu as imagens corretamente, os repórteres estavam a postos em Porto Príncipe, em perfeitas condições de saúde. Vinte minutos depois de iniciado o noticiário, as primeiras imagens sobre o Haiti são apresentadas pela correspondente em… Nova York! Depois de quase uma semana de cobertura eletrizante, uma virada de 180º para agradar a quem? Não ao Dr. Roberto Marinho, certamente.
Compromissos pétreos
Ilustre jornalista William Bonner: diga em que página do seu utilíssimo livro estão consignados os argumentos técnicos, os fundamentos teóricos e as justificativas morais para tão drástica reversão. Quem lhe disse que o cidadão-espectador da TV Globo cansou tão depressa do horror?
Será verdade que o jornalismo transformou-se num processo tão voluntarista, tão inconsistente, tão banal que já não importam os compromissos com a humanidade?
Solidariedade não é com a Globo?
Plim-plim.