‘Muito bom que tenha sido criado um Grupo de Discussão para comentar a decisão do arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, de excomungar a mãe e os médicos no caso da criança de 9 anos que foi estruprada pelo padrasto e que foi submetida a um aborto na quarta, dia 4.
O caso está tendo repercussão. A imprensa internacional noticiou. O presidente Lula deu declaração dizendo que a Igreja errou.
O arcebispo respondeu à declaração de Lula mandando o presidente consultar um teólogo.
Com tantos elementos contundentes, me parece redutora a pergunta: ‘Para você, o que é mais grave, aborto ou estupro?’.
Do ponto de vista laico, tanto faz se a Igreja vai excomungar ou não o estuprador da garota. O que está sendo chocante para leigos e religiosos é a culpabilização da vítima, que corria risco de morte, através da excomunhão de sua responsável (a mãe) e dos médicos que fizeram a cirurgia para lhe preservar a saúde.
Pedir que o público faça uma comparação entre aborto e estupro, como fez desastradamente o arcebispo, é reduzir a discussão.
O corintiano de Cumbica
‘Boa iniciativa de fazer uma entrevista com o peculiar morador de Cumbica, mas, por que no vídeo o repórter não pergunta como ele chegou ao aeroporto? É a coisa mais interessante dessa história. A não ser que, na verdade, o interesse seja mostrar o lado hollywoodiano similar ao personagem de Tom Hanks’.
Em mensagem à ombudsman, a leitora Luciana se refere à reportagem ‘Rapaz de 25 anos mora há oito no aeroporto de Cumbica’, publicada nesta sexta, 6 de março, e que teve destaque na home page do UOL pela manhã e até o meio da tarde. Na imagem que foi destacada, o ‘morador’ está com a camisa do Corinthians.
A pauta é boa. O tema é delicado. Segundo a reportagem, o rapaz tem ‘comportamento bastante infantil’, não tem documentos ou ligações com a familia.
A reportagem tem texto e vídeo. O texto tem qualidades que o vídeo acaba por ofuscar, por cacoetes.
No texto, é contada a história de Denis de Souza, rapaz que, segundo o título da reportagem, mora no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, São Paulo, há oito anos.
A informação sobre o tempo de estada do rapaz no aeroporto não se confirma no texto, pois, segundo a própria reportagem, ele ‘não sabe também ao certo quantos anos tem (acha que fez 25 anos, mas também não lembra a data de seu aniversário e afirma ter perdido os documentos) nem há quantos vive por lá: ‘Estou aqui há o maior tempo, mais de cinco anos’. As lojistas mais veteranas (sic) contam que veem Denis por lá há muito mais tempo’.
Apesar disto, o texto constrói o personagem. Relata aspectos da história da família, fala de seu amor pelo Corinthians e revela que ele tem relações de afeto, faz ‘bicos’ e tem a proteção dos funcionários de lojas do aeroporto.
Já no vídeo, não há menção sobre a chegada do rapaz ao aeroporto, conforme apontou a leitora Luciana.
No geral, o vídeo abusa da referência ao açucarado filme ‘The Terminal’ (O Terminal, 2004), dirigido por Steven Spielberg.
Cenas do filme de Spielberg são seguidas por takes ‘produzidos’ de Denis no aeroporto. A trilha sonora do filme é usada como som de fundo (BG, de background, no jargão) para a narração, propositadamente ralentada e sussurrada. Somados, estes elementos criam o clima apelativo que perde de vista a riqueza da situação real. O personagem da matéria fica encapsulado numa espécie de caixinha de música ficcional já desenhada, repetitiva, gasta. A história de Denis de Souza é subordinada a um exercício de estilo da reportagem e da edição.
Um grupo de discussão foi aberto sobre o tema. Nele, há comentários elogiosos à reportagem, mensagens de solidariedade ao personagem e também críticas ao estilo do vídeo:
‘Quero registrar que a matéria ficou excelente! Mas que história triste… será que não há uma pessoa que possa ajudar este rapaz, que demonstra ter problemas de saúde (mental) e que merece ter melhores coisas de vida!!!! O que podemos fazer p/ ajudá-lo? Além da ajuda que já recebe dos funcionários do aeroporto. Acho que devemos nos movimentar e fazer algo realmente significativo p/ este ser humano’, assinou a internauta MRBB.
‘Acho uma pena, pois o Denis não teve uma oportunidade como muitos brasileiros. Ele respeitando os passageiros é o mais importante. Vamos deixar o rapaz lá. Ele não incomoda ninguém. É uma vergonha e esses políticos que não pensam no próximo’, escreveu Paulo.
‘Boa matéria, o personagem vale um documentário. Mas por que o repórter sussurra o texto??? Que coisa mais irritante!!! A edição também privilegiou as cenas do Terminal. Pena. Deveria ser só referência. O Denis fala pouco, não conta porque está ali, nem detalha seu dia-a-dia no aeroporto. De que adianta achar um personagem rico como esse se na edição tudo vai por água abaixo?’, perguntou Ricardo.
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Serra da Capivara (2/3/09)
Tem chamada na home page do UOL nesta quinta, dia 5 de março, uma longuíssima entrevista com a historiadora Niéde Guidon, referência na arqueologia no Brasil, por seus estudos de pinturas rupestres, suas datações no sítio arqueológico da Pedra Furada, em São Raimundo Nonato, Piauí, e sua atuação à frente da Fundação do Homem Americano, a Fundham.
Niéde Guidon dirige o Parque Nacional da Serra da Capivara, importante conjunto de patrimônio pré-histórico das Américas.
O texto, que tem o título ‘No Piauí, maior acervo de pinturas rupestres do mundo sofre com o poder público’. está repleto de reclamações e denúncias. O extenso depoimento da pesquisadora seria um bom começo para uma reportagem.
Em sua abertura, o texto diz que o Parque enfrenta ‘omissão do poder público’, um aeroporto inacabado, rodovias em condições precárias, pouca capacidade hoteleira para receber visitantes estrangeiros, caça predatória dentro da área protegida, problemas com populações de assentamentos vizinhos e queimadas.
Todas estas afirmações ficam apenas nas declarações da pesquisadora e são assumidas como verdade pelo entrevistador.
Abrir o microfone é importante e o tema é interessante.
Mas nada de muito novo foi dito. Faltou apuração, reportagem e edição.
Mais espaço para notícias
Na última quarta-feira, 4 de março, foi feita mais uma alteração na home Page do UOL, com a ampliação da área de notícias.
O quadro passou a ter mais títulos, mais espaço para fotos e letras maiores para as chamadas da parte inferior.
É um ajuste interessante e acho positivo que a Redação faça intervenções pontuais no layout para agilizar a edição.
A impressão destes primeiros dois dias é que a página ficou mais dinâmica e diversificada.
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Fofocas, abobrinhas e BBB (3/3/09)
O leitor Alexander, de Curitiba, enviou mensagem para a ombudsman mostrando insatisfação em relação ao que considera mudanças editoriais no portal.
Segundo a avaliação de Alexander, o UOL está dando ênfase para ‘futilidades e abobrinhas variadas’ atualmente. Agradeço a mensagem e reproduzo na íntegra, pois considero de grande valor para a avaliação e discussão da Redação.
‘Sou frequentador assíduo do UOL desde 1998 e assinante desde 2006.
Como não costumo assistir televisão e não tenho tempo para ler jornais durante a semana, minhas principais fontes de informação são a internet e as rádios noticiosas (CBN e BandNews). O UOL sempre foi minha referência na internet, principalmente pela credibilidade do Grupo Folha.
Porém, tenho notado que o conteúdo do UOL tem se distanciado do que era há alguns anos atrás.
Antes eu encontrava as informações que eu julgo importantes na página principal.
Hoje em dia o UOL parece dar ênfase a ‘‘outro tipo’’ de conteúdo: futilidades e abobrinhas variadas, fofocas sobre celebridades, futebol, simpatias, BBB e por aí vai.
Isso sem falar nas chamadas de notícias ora sensacionalistas ora com frases de duplo sentido.
É impressão minha ou o UOL está reposicionando (ou já reposicionou) a sua página principal e boa parte dos seus conteúdos para o público ‘teen’ e para os ‘neonavegantes’ da inclusão digital?
Ou esse jeitão de tablóide sensacionalista é uma estratégia para conseguir mais acessos, já que a internet se alimenta desses índices?
O UOL já não é mais a minha página inicial do navegador. Prefiro me informar primeiro no Estadão, na BBC Brasil e por último no UOL.
Interessante foi constatar essa mesma percepção sobre o UOL no meu círculo de relacionamentos.
Dias atrás, este assunto casualmente veio à tona numa reunião de amigos e daí surgiu a minha iniciativa em expôr o meu ponto de vista ao Ombudsman.
Espero de alguma forma ter colaborado com os meus comentários’.
Alexander não é o único a manifestar a sensação de que há superexposição de fofocas em detrimento de conteúdo de relevância ultimamente:
‘Abri o site hoje e fiquei mais uma vez decepcionado. Tem muita fofoca e poucas notícias úteis. Como se o Brasil e o mundo estivessem perfeitos e os jornalistas cuidando da vida privada de outras pessoas. Mas fiquem tranquilos, isso também está acontecendo com a rede Globo. Parece que os ‘grandes’ estão tombando e abrindo espaço para as mídias alternativas (pelo menos é onde busco mais informações úteis). Bom, a seção de entretenimento (não confunda com fofocas) é excelente!!!.
Assim escreveu Everaldo, para quem o UOL faria parte de uma tendência dos grandes meios.
Publico também mensagem do internauta Nivaldo, que resume queixa de outros internautas ao apontar um assunto que tem muita audiência, mas desperta também rejeição de parte dos leitores, o programa Big Brother Brasil:
‘Sou assinante UOL há anos e pouco reclamo, mas dessa vez não pude me conter. Não aguento mais o espaço que vocês estão dando para o BBB.
Com tanta coisa importante acontecendo no Brasil e no mundo, é inacreditável que o UOL reserve tanto espaço para este assunto’, escreveu Nivaldo.
Enviei as mensagens para a avaliação da Redação. O gerente geral da home page, Alexandre Gimenez, afirma que cerca de 30 chamadas da página são destinadas a assuntos de interesse jornalístico mais profundo. E informa que em breve deve ser incluído novo bloco com mais notícias e fotos.
Gimenez citou também a política editorial da home page do UOL, publicada em 15 de outubro de 2008, que diz: ‘A primeira página do UOL propõe-se a reunir e publicar com agilidade as notícias mais relevantes do Brasil e do mundo; valorizar as melhores produções editoriais do portal, em particular nas áreas de notícias, esporte, entretenimento e vídeo; e expor a qualidade e a diversidade de serviços e conteúdos do UOL e de seus parceiros. A home page do UOL é vista por milhões de pessoas de perfil heterogêneo. Um dos desafios da edição é reunir assuntos e enfoques que atendam as expectativas de diferentes públicos’.
A regra é importante e mostra interesse da área editorial em oferecer sempre um leque de assuntos diversificados para atender muitas faixas de público. Mas os leitores apontam desequilíbrio e explicitamente excesso de fofoca. Vale a pena refletir sobre estas críticas.’