Soube que uma pessoa xerocou o meu livro inteiro! O argumento é que livro deve voar por aí, nas mãos daqueles que não podem pagar o preço que a editora cobra.
O livro bom não é caro. O preço do livro bom é sempre irrisório perto do seu valor. Se meu livro é bom, é sempre barato, e portanto muitos hão de comprá-lo. O último livro de Paulo Coelho custa R$ 35 (caríssimo!). O livro que comentei outro dia, da autoria de Alberto Manguel, Os livros e os dias, custa R$ 38. Está de graça!
Mas há realmente quem não possa pagar pelos bons livros. Ou porque sua hierarquia de valores já pôs um carro novo ou roupas da moda acima de qualquer livro, ou porque, para passear dirigindo um livro, teria de abrir mão do almoço e da conta de luz.
Gasto em livros mensalmente mais do que em almoços e roupas. E não tenho carro por opção. Opção preferencial pelo livro, que até pode me ensinar a usar o dinheiro para ser feliz e fugir às artimanhas da sociedade de consumo. A propósito, comprei e li com gosto (e recomendo com entusiasmo) Dinheiro: é possível ser feliz sem ele, do jornalista Odir Cunha. (Quem não tiver dinheiro para comprar Dinheiro deverá vencer a tentação de xerocá-lo…).
Sem autógrafo
Sou consumista de livros, que me dão alegrias, preocupações, trabalho e até… dinheiro. Se não tivesse lido o que li (e morrerei tendo lido 0,0001% do que há de bom para ler), minha vida não teria sentido.
Livro merece ser comprado. É bom que cada um monte a sua biblioteca pessoal. O estudante que não tem dinheiro para essa finalidade deve encontrar os meios necessários. Comprar o livro ele mesmo, fisicamente ele mesmo, com sua capa e orelhas. Sacrificar a cerveja para se embebedar com livros. Sacrificar a balada para dançar com os livros.
Confesso meu crime. Eu também já xeroquei livros. Mas eram livros esgotados, que só encontrei em bibliotecas depois de busca insana nos sebos. Não me arrependo do crime, mas tenho de reconhecer que é uma pena ler livro assim, sem o seu amável formato de livro.
Você, sim, você! Você que xerocou o meu livro! Dessa vez está perdoado… Mas não poderei autografar as folhas da xerox. Minha religião não permite…
******
Doutor em Educação pela USP e escritor; site: www.perisse.com.br