Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Paulo Machado

"Estes foram os argumentos usados pela Agência Brasil para justificar uma informação errada publicada no título da matéria STJ reitera que motorista é obrigado a fazer teste do bafômetro em blitz, no dia 28 de setembro. Apesar do conteúdo da notícia não afirmar o que estava em seu título, a informação induzia à obrigatoriedade legal do teste.

Para os leitores que leram apenas o referido título ou que não voltaram às páginas da ABr depois dele ser modificado, ficou valendo a informação errada, ou seja, de que a Justiça havia decidido que se o motorista for parado em uma blitz ele é obrigado a fazer o teste do bafômetro.

A correção do título se deu depois que esta Ouvidoria recebeu e encaminhou duas mensagens de leitores atentos que advertiram sobre o erro. Genaro Moacir Prates escreveu: ‘Me parece que está errada a manchete da matéria que diz que MOTORISTA É OBRIGADO A FAZER TESTE DO BAFÔMETRO [grifo do leitor]. Não é esse o texto…. foi negado pelo STJ um habeas Ccrpus porque não há direito violado enquanto não houver a ação, ou seja, estariam concedendo uma ordem onde não há ameaça. STJ entendeu que nesse tipo de habeas corpus a liberdade de locomoção não estava em risco. Ainda será julgada no Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) contra a Lei Seca E mais, o STJ não é competente para apreciação inconstitucionalidade, é o Supremo que esta estudando a matéria. O erro da manchete pode levar as pessoas a se submeterem ao teste’.

Já o leitor Fernando Miranda lamentou: ‘Costumo usar o site como referência para notícias no meu trabalho. Mas a matéria ’STJ decide que motoristas são obrigados a fazer teste do bafômetro’ é de uma infelicidade enorme. Não sei se quiseram fazer sensacionalismo, ou se a pessoa que elaborou a matéria não sabe interpretar um texto. O STJ NÃO obrigou ninguém a fazer o teste do bafômetro. Só decidiu que ninguém pode andar com um habeas corpus preventivo para se excusar de fazer. Percebem a diferença? Quem quiser, pode continuar a não soprar.’Em resposta aos leitores a ABr informou: ‘Agradecemos o comentário do leitor e lembramos que, por questão de espaço e de necessidade de síntese, pode ser que um título acabe algumas vezes resumindo muito as informações de uma notícia’.

Ou seja, a Agência não admitiu o erro em sua resposta aos leitores, mas modificou o título que passou a ser: STJ nega habeas corpus a motorista que contestava teste do bafômetro em blitz. Talvez, para ser mais precisa, a manchete poderia citar que o STJ negou o habeas corpus preventivo a motorista, pois foi o caráter antecipativo que estava em julgamento e, portanto, era o foco da notícia.

Mas ao tentar se justificar, alegando ‘questão de espaço e de necessidade de síntese’ a ABr não incorreu em outro erro? Diferentemente do que afirmaram, não foi o caso de ‘resumirem muito as informações de uma notícia’, e sim de que inventaram uma informação que não constava do corpo da notícia. O leitor Genaro Moacir Prates apontou que o texto da reportagem não conversava com a manchete. Então por que procederam dessa maneira?

Fernando Miranda levanta duas hipóteses: fazer sensacionalismo ou dificuldade de interpretação do texto. No primeira hipótese – sensacionalismo, a agência pública não precisa lançar mão desse tipo de recurso para atrair a atenção do leitor pois seu orçamento é pago antecipadamente pelo contribuinte, que tem direito à informação precisa, isenta e imparcial. No segundo caso, se for confirmada a dificuldade de interpretação, ela não requer a requalificação de seus profissionais para que consigam lidar com a informação dentro dos parâmetros de responsabilidade que o jornalismo exige?

De qualquer forma, falta de espaço e necessidade de síntese são duas características básicas da realidade de qualquer site de notícias. A elas ainda se soma a necessidade da rapidez no processamento das informações. No entanto, nada disso pode ser usado como justificativa para dispensar a precisão do noticiário.

Tentar justificar tal erro em vez de admiti-lo, não contribui para que não se cometa mais imprecisões e equivocos. A relação com o leitor precisa se pautar sempre pela transparência – é ela que leva à confiabilidade e à credibilidade. Informações erradas, segundo as estatísticas desta Ouvidoria baseadas na percepção dos leitores, deram origem a 39 demandas nos últimos três meses, todas elas relatadas pela Ouvidoria-Geral ao Conselho Curador da EBC.Até a próxima semana.

Observação: os relatórios da Ouvidoria Geral da EBC para o Conselho Curador encontram-se publicados na coluna ao lado direito da página da Ouvidoria da Agência Brasil em arquivo no formato PDF."