Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Limites para os bancos

A decisão do Banco Central do Brasil de estabelecer limites para os ganhos de executivos de bancos brasileiros é manchete na Folha de S.Paulo e no Globo e destaque na primeira página do Estado de S.Paulo em suas edições de terça-feira (2/2).


A medida, anunciada como parte das recomendações feitas pela cúpula dos vinte países economicamente mais influentes após a eclosão da crise financeira global do ano passado, apanha a imprensa nacional em aparente contradição.


Ferrenhamente apegados aos valores ditos liberais, segundo os quais o Estado deve andar sempre distante dos negócios privados, os chamados jornais de circulação nacional absorvem a medida, considerada importante para evitar que os executivos de bancos assumam riscos exagerados, de olho nos bônus milionários por desempenho.


Como se sabe, um dos elementos deflagradores da crise de 2008 foi o fato de dirigentes de bancos terem adotado operações para inflar artificialmente os lucros das instituições financeiras e dividir os ganhos entre si. Agiram como uma quadrilha organizada. Essa prática se generalizou e levou à sucessão de fraudes que foram descobertas no final de 2008.


Fora da pauta


Não há, nos jornais brasileiros, nenhuma contestação à decisão do Banco Central, que deverá ficar exposta em audiência pública por 90 dias e depois será regulamentada pelo governo. A rigor, trata-se de medida que já foi adotada pelo Federal Reserve, o banco central americano, em outubro do ano passado; portanto, trata-se de intervenção estatal bem digerida pela imprensa.


O que talvez faça falta ao leitor seja um esclarecimento sobre os valores envolvidos nos bônus que os bancos pagam a seus executivos. Esses altos funcionários definem a estratégia de cada instituição financeira, estabelecendo metas de desempenho que vão sendo empurradas de cima para baixo, até chegar à conta do cliente.


Os gerentes e demais funcionários subalternos são obrigados a cumprir essas metas, sob pena de perder promoções e até o emprego. Na ponta do sistema, o cliente muitas vezes é ludibriado ou convencido a adquirir produtos e serviços, como seguros e pacotes de investimento, que não são adequados ao seu perfil ou favoráveis aos seus interesses.


Mas isso é história que não sai no jornal.