Está em todos os jornais a cena em que um suposto representante do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, entrega uma sacola com 200 mil reais para o jornalista Edmilson Edson dos Santos, para convencê-lo a obstruir as investigações que apontam Arruda como chefe de um esquema de corrupção.
Santos é apontado como o homem que estimulou Durval Barbosa, ex-secretário da Casa Civil do governo de Brasília, a documentar a farta distribuição de dinheiro entre parlamentares e outros envolvidos e denunciar o esquema à Polícia Federal.
O episódio, que teve como seqüência a prisão do suposto emissário de Arruda, pode fazer o caso sair do atoleiro em que se encontra, uma vez que a Comissão Parlamentar de Inquérito não avança porque a Câmara Distrital de Brasília é dominada pelo mesmo grupo acusado de formar a quadrilha.
A novidade, segundo os jornais, é que o governador pode sofrer um pedido de prisão, por tentativa de obstruir a Justiça.
Pode não ser o resgate da moralidade, mas a cena de um governador sendo algemado seria um prato cheio para a chamada opinião pública.
No entanto, a imprensa anda dando voltas ao problema principal, e original, da corrupção no Brasil: as formas dissimuladas de financiamento de campanhas políticas, que transformam o poder público em terreno loteado por interesses econômicos. Além disso, o sistema eleitoral é altamente influenciado por vícios do próprio sistema nacional de comunicação, com a permanência de concessões de rádio e televisão para ocupantes de cargos eletivos. Mas esse é um tema que a imprensa detesta ser obrigada a abordar.
Debate sonegado
Não apenas nas eleições que compuseram a suposta quadrilha de José Roberto Arruda no Distrito Federal, mas em todos os estados, boa parte dos eleitos se vale de campanhas mal disfarçadas durante o ano todo, mesmo fora do período legal, por meio de aparições na televisão e participações privilegiadas em programas de rádio.
Mesmo em São Paulo, onde supostamente a fiscalização da Justiça Eleitoral seria mais eficiente, muitos donos de emissoras e apresentadores de programas populares são vereadores ou deputados e candidatos permanentes à reeleição.
A imprensa denuncia a corrupção, mas não quer ir às origens porque teria que aceitar o debate sobre a propriedade dos meios de comunicação.
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Festa no canavial
Definitivamente traduzido para etanol, o álcool combustível que faz a riqueza do interior paulista e de outras regiões do Brasil está vivendo dias de petróleo: desde que foi incluído pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos na lista de biocombustíveis de baixa emissão de carbono e origem renovável, não param de brotar boas notícias para o setor.
A medida do órgão regulador americano foi divulgada na terça-feira (2/2/) e já produz efeitos: algumas gigantes do petróleo anunciam interesse em investir no combustível de cana-de-açúcar.
A imprensa brasileira dá bastante destaque, no noticiário econômico de sexta-feira (5/2), ao fato de que a Shell, uma das gigantes do setor petrolífero, decidiu transformar o etanol brasileiro em uma commodity global. Recentemente, conforme divulgado pela imprensa de todo o mundo, a Shell fez uma associação com a Cosan, a maior produtora brasileira de etanol.
O movimento da empresa reflete um processo de grandes mudanças no setor, que se move para fora do ambiente do petróleo e busca alternativas em combustíveis menos poluentes, tentando uma saída para o esgotamento das reservas de óleo.
Fatos relevantes
Há motivos para a celebração que se pode ler nos jornais. Mas faltam elementos para uma melhor avaliação dessa festa. Um deles: mesmo com a alta produtividade dos produtores de cana, que conseguem mais resultado em áreas menores, com alta tecnologia agrícola, é de se esperar que aumente a pressão pela ampliação das fronteiras agrícolas no Brasil.
Como foi noticiado há seis meses, produtores do Centro-Oeste andaram invadindo a região do Pantanal e foi necessária a ação federal para impedir a destruição daquele patrimônio ambiental.
A imprensa tem que noticiar os fatos relevantes da economia, mas não pode fechar os olhos para a necessidade de se avançar na busca do desenvolvimento sustentável.