‘As estratégias das fontes são múltiplas’
As fontes trataram de contratar jornalistas para aperfeiçoar o relacionamento com a mídia. Dados de sindicatos e da Fenaj comprovam que a maioria dos jornalistas brasileiros atua em assessoria de imprensa, cerca de 60%. A partir de meados da década de 1980, eles vêm ocupando espaços que, em tese, são específicos dos profissionais de relações públicas.
Este fenômeno muda o papel do jornalista na sociedade. Ao invés de um narrador, ele assume a função de moderador e gestor da comunicação, representando 29,4% dos profissionais que atuam nos departamentos de comunicação das empresas (Databerje, 2008), 73% nas agências de comunicação (pesquisa realizada pelo signatário entre 365 agências) e 82% no serviço público (Sant´Anna, 2009).
O crescente nível de profissionalização da comunicação, tanto nas organizações como na assessoria às personalidades, também aparece em outros países, a exemplo da França e Espanha, onde proliferam as assessorias e agências de comunicação que atraem os jornalistas e paralelamente ocorre a capacitação dos porta-vozes.
A preferência é por jornalistas com passagem pelas redações, porque ‘conhecem perfeitamente o trabalho jornalístico e apresentam conteúdos completos, que facilitam o trabalho do jornalista. Mas isto nos leva ao seguinte resultado: a fonte, praticamente, é quem redige a notícia’ (Alsina, 2009, p.170).
Relação sistemática com a mídia
Philip Schlesinger (1992) e Érik Neveu (2006) também verificam esse processo de profissionalização e capacitação em desenvolver estratégias para antecipar as rotinas e práticas jornalísticas, abastecendo a mídia com material pronto para veicular, ‘que pode ser de utilidade para um jornalista sobrecarregado’, diz Neveu (2006, p.96), além de evitar o custo para coletar a informação original.
Aproveitando a disponibilidade de jornalistas em seus quadros de pessoal, as organizações não-midiáticas desenvolvem e mantêm as suas mídias próprias (jornal, revista, rádio, TV, portal na internet), para interagir na esfera pública (Sant´Anna, 2009).
Igualmente ocorre a capacitação de empresários como interlocutores de informações econômicas e de negócios. Assim como as personalidades políticas e as instituições públicas, as organizações privadas e o terceiro setor também passaram a treinar e sensibilizar seus porta-vozes sobre as suas responsabilidades no contato com a imprensa.
‘Quanto maior a perspectiva de visibilidade de uma organização, maior deve ser sua preocupação com a qualidade das informações que circulam na mídia’, alerta Luciane Lucas (2008), aconselhando a realização de treinamento (media training) para desenvolver ações sistemáticas de relação com a mídia, notadamente na preparação para a contingência e gestão de crises.
Dinâmica, imagem e bastidores
Com o propósito de revelar os métodos, ritos e atitudes de repórteres e editores, esse treinamento também aborda a comunidade interpretativa dos jornalistas, estudada por Barbie Zelizer (2000), que aponta uma maneira própria de falar, o uso de jargões, uma forma de perceber o valor da notícia e interpretar, uma cultura profissional rica em mitos, símbolos e representações sociais.
Enfim, a ‘tribo jornalística’ forma uma comunidade ‘unida pelo seu discurso partilhado e pelas interpretações coletivas de acontecimentos públicos relevantes’ (Zelizer, 2000, p.33) e cria uma rede informal de contatos.
Na capacitação dos porta-vozes são abordados temas como a dinâmica da mídia e a construção da imagem e reputação institucional; os bastidores e as estruturas dos veículos de comunicação; regras básicas no atendimento de jornalistas, formas de entrevistas; potencialização do trabalho da assessoria de imprensa; além de dicas e orientações para melhorar o desempenho no contato com os jornalistas.
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Mestrando em Jornalismo na UFSC