Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mais sensibilidade ao jornalismo

Aguçada sensibilidade somada a preciosas técnicas de apuração. À primeira vista, a mágica receita para a construção de uma reportagem pode até parecer fácil, mas não é. Nos bancos das faculdades de Jornalismo, nos quais permanecemos sentados por quatro longos anos de nossas vidas, ouvimos discursos de docentes infectados pelo impiedoso mercado de trabalho que impõe a inalcançada imparcialidade.

Após cinco anos imersa neste Inferno de Dante, observo o diferencial de um repórter: ele se concentra justamente em sua sensibilidade. Premiadas reportagens vencedoras de consagrados concursos jornalísticos, bem como best sellers de livros-reportagem, somente conquistaram tal status devido à aguçada sensibilidade de seus autores. Em 101 Dias em Bagdá, de Asne Seierstad, mesma autora de O Livreiro de Cabul, a jornalista nos ensina, com maestria, como conciliar humanismo às criteriosas técnicas de apuração.

Mesclando em sua obra uma agradável narrativa com observações coletadas sob seu prisma pessoal ao conciso material jornalístico produzido para gabaritados veículos de comunicação, como a BBC World, ela detalha a coleta de dados para a produção de um consistente material jornalístico, mesmo diante das adversas condições de sobrevivência e também de risco de vida.

Exemplos em nosso cotidiano

Grandes lições, como a de Asne Seierstad, deveriam ser ensinadas nas faculdades. Afinal, este universo acadêmico é responsável por formar contadores de histórias pós-modernos. E as lições também deveriam ser estendidas aos treinamentos ministrados nas nervosas redações. Os periódicos impressos precisam, urgentemente, reinventar-se, como já argumentei neste Observatório (ver ‘Reengenharia para os jornais impressos‘).

Claro que a objetividade tem de direcionar a apuração, pois é através dela que nós, repórteres, recontamos, com precisão, variadas histórias que ocupam diariamente as páginas de um jornal impresso. Porém, uma apuração sem perguntas motivadas por curiosidade e permeadas por sensibilidade certamente não irá resultar em um relato com profundidade de leitura informativa e agradável.

Através da adoção desta iniciativa, os jornalões agregariam um considerável número de novos leitores a seus produtos, recuperando sua rentabilidade – que atualmente encontra-se em franco declínio – e contribuiriam mais ainda para a formação de um novo perfil de opinião pública que seria conscientizada sobre verossímeis do cotidiano.

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Jornalista, Pedro Leopoldo, MG