A capa promocional em inglês apresentada pelo Estado de S.Paulo na edição de segunda-feira (31/1), oferta de uma escola infantil bilíngue, levanta algumas questões sobre a eficiência desse tipo de publicidade, que vem se tornando corriqueira na imprensa nacional.
Uma delas: que sensação têm os leitores que não falam inglês, ao serem chamados de ignorantes ao ponto de terem que pedir a ajuda de uma criança para entender o que está escrito em seu jornal? Outra questão é: com tão pouco tempo para dedicar à leitura, por que colocar mais um obstáculo entre o leitor e a informação?
No caso do anúncio dado na segunda-feira no Estadão, a publicidade com notícias em inglês leva a reflexões sobre como a imprensa nacional enxerga certos eventos internacionais. Neste episódio, o que se pode observar é o esforço para colocar a revolta no Egito no contexto das análises abrigadas tradicionalmente pela imprensa.
Exceções à regra
Diante do fato, até aqui incontestado, de que a população egípcia resolveu sair espontaneamente às ruas, sem lideranças formais, movida apenas pelo desejo de mudança, é o caso de se questionar, por exemplo, onde foi parar a teoria do fim da História, tão celebrizada pela imprensa no fim do século passado.
A despeito da grande quantidade de informações despejada na internet por agências internacionais de notícias – ou talvez por isso mesmo – a leitura dos jornais no fim de semana remetia à idéia de um mosaico. A falta de um agrupamento político formalmente postado na liderança da revolta dificulta para os editores e analistas convidados a definição do acontecimento histórico.
Afinal, o que está acontecendo no Egito? É a revolução do Twitter? Não há aiatolás à frente das multidões que se aglomeram no Cairo e em outras cidades importantes, e os jornalistas ainda não entenderam como cobrir um movimento social sem líderes aparentes.
O que vemos nos jornais, com raras exceções, são especulações e a reprodução de imagens que se multiplicam na internet. É a História, sempre movida pela ideologia, insistindo em acontecer à revelia de seus coveiros.