Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

NP, sexo e humor

O diário Notícias Populares foi um dos mais interessantes fenômenos do jornalismo brasileiro da segunda metade do século passado. Concebido para combater, em nome dos conservadores, o governo de João Goulart, defendido pelo jornal Última Hora, o NP se transformou num dos melhores exemplos locais da imprensa do modelo dos tabloides ingleses, um sensacionalismo benfeito, criativo, bem-humorado, com forte apelo para setores populares da sociedade e que explora inteligentemente fatos relativos a crime, sexo, esportes e celebridades.

A história do NP foi muito bem relatada em 2001 por quatro então recém-formados em jornalismo e reaparece em edição revista. Celso de Campos Jr., Denis Moreira, Giancarlo Lepiani e Maik Rene Lima contam com linguagem agradável e fluida, sem pretensão acadêmica, muitas das histórias lendárias que marcaram as quatro décadas do jornal, muitíssimo bem-sucedido até uma combinação de fatores políticos, econômicos e sociais o inviabilizar como negócio e determinar o seu fim, em 2001.

Nada Mais que a Verdade pode incitar outros estudiosos a investigar um enigma do mercado brasileiro de comunicação atual. No prefácio, o colunista da Folha Marcelo Coelho diz que uma das causas da morte do NP foi o fato de a TV ter se apropriado do interesse pelo tipo de informação em que o jornal se especializara.

Um prazer para quem gosta de jornalismo

Como no Brasil não se chegou a criar tradição de leitura no operariado antes da sua relativa melhora de poder aquisitivo e da disseminação da TV, não se formou aqui uma audiência fiel ao jornalismo impresso sensacionalista, ao contrário, por exemplo, do Reino Unido. Mas como explicar que, na década passada, tantos jornais diários com essas características tenham aparecido e se dado bem em dezenas de cidades brasileiras, mas nenhum em São Paulo?

Nada Mais que a Verdade não se propõe a examinar esse mistério. Mas pode servir de ponto de partida para estudos que lancem luz sobre ele. A leitura do livro é um prazer para quem gosta de jornalismo, mesmo para quem não aprecie a forma como os editores e repórteres do NP o exercitaram.

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Jornalista