Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

‘Príncipe das trevas’ morre aos 78 anos

O colunista político Robert Novak, figura central no caso do vazamento da identidade da agente da CIA Valerie Plame, em 2003, morreu na terça-feira [18/8] aos 78 anos, vítima de um câncer no cérebro. O conservador jornalista era um polêmico debatedor e tinha orgulho de ser chamado de ‘Príncipe das Trevas’.


Durante décadas, Novak escreveu para o Chicago Sun-Times e foi também co-apresentador do programa Crossfire, da emissora CNN. ‘Ele era uma instituição de Washington que poderia tornar uma idéia no assunto mais discutido em casa, nos escritórios, na Casa Branca, em todos os lugares’, resume o líder republicano do Senado, Mitch McConnell. Para o líder da Câmara, o republicano John Boehner, ‘Bob fez contribuições memoráveis no campo do jornalismo e no cenário político americano’.


Furos


Há seis anos, Novak acabou participando de um grande episódio de Washington, quando se tornou figura central no vazamento da identidade da agente da CIA Valerie Plame. O colunista foi o primeiro a publicar o nome de Valerie, e foi muito criticado por isso. Em seu livro O Príncipe das Trevas: 50 anos de reportagem em Washington (tradução livre), Novak afirma que sempre dava aos políticos a escolha de ser fonte ou alvo, estratégia que gerou muitos furos para sua coluna – inclusive o da identidade da agente secreta.


Citando dois funcionários governamentais, sem identificá-los, Novak revelou que Valerie Plame trabalhava para a CIA em uma investigação sobre armas de destruição em massa uma semana depois que o marido dela, o diplomata Joseph Wilson, assinou artigo no New York Times acusando o governo do presidente George W. Bush de distorcer documentos da inteligência para exagerar a ameaça de armas nucleares no Iraque e justificar a invasão ao país. O episódio levou à abertura de um inquérito para se descobrir quem vazou a informação a Novak.


Curiosamente, o colunista não sofreu nenhuma conseqüência pelo vazamento. Diversos outros jornalistas, entretanto, foram intimados a depor sobre o caso. A jornalista Judith Miller, então repórter investigativa do New York Times, chegou a ser presa por três meses por se recusar a identificar suas fontes. No fim, a acusação de vazamento caiu sobre Lewis ‘Scooter’ Libby, que ocupava o cargo de chefe de Gabinete do vice-presidente americano, Dick Cheney. Libby foi condenado por perjúrio e obstrução à justiça, mas sua sentença foi, posteriormente, atenuada por Bush.


Paixão pelo jornalismo


Em sua biografia, Novak reconhece que se orgulhava do apelido ‘Príncipe das Trevas’ ter derivado de seu ‘pessimismo sobre os prospectos para os EUA e a civilização ocidental’. ‘Ele amava ser jornalista, o jornalismo, seu país e sua família’, afirma sua esposa, Geraldine Novak. ‘Passei um período excelente preenchendo meus sonhos de juventude e ao mesmo tempo tornando a vida miserável para os hipócritas, políticos arrogantes e, espero, fazendo um serviço para nosso país’, Novak escreveu em suas memórias.


Quando jovem, ele chegou a servir no Exército durante a Guerra da Coréia. O jornalista trabalhou também na Associated Press e no Wall Street Journal. Em sua última aparição regular na CNN, em agosto de 2005, falou palavrão no ar e saiu do estúdio, após um debate político com o estrategista democrata James Carville. Novak desculpou-se posteriormente, mas teve raras participações na rede após o episódio.

Segundo Jim Walton, presidente da CNN Worldwide, o colunista compartilhou com a emissora e seus telespectadores sua autoridade, credibilidade e humor. ‘Estamos gratos por termos trabalhado com ele’, afirma. Após sua saída da CNN, Novak tornou-se colaborador ocasional da Fox News. Além de suas memórias, ele escreveu livros sobre o Partido Republicano e os ex-presidentes Lyndon Johnson e Ronald Reagan. Informações de Barry Schweid e Will Lester [AP, 18/8/09].