Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica interna


’06/06/2005


A Folha fez, neste DOMINGO e hoje, duas edições fortes a respeito da crise política que atingiu o governo Lula. A entrevista com o presidente do PTB, Roberto Jefferson, é um marco nesta cobertura, independentemente de que esteja falando (toda) a verdade ou não.


A espinha dorsal da edição de domingo do primeiro caderno do jornal é a pesquisa Datafolha com a avaliação da administração federal, a imagem do governo Lula e a simulação de intenção de votos para a Presidência. As informações que trouxe mereciam – e continuam a merecer – análises que o jornal ainda não conseguiu fazer.


As manchetes de domingo e segunda:


Folha – ‘Datafolha mostra que Lula enfrenta 2º turno’ (D);


‘PT dava mesada de R$ 30 mil a parlamentares, diz Jefferson’ (2ª).


‘Estado’ – ‘O Brasil informal que já tem 39,8% do PIB’ (D);


‘Inadimplência atinge a maior marca em 4 anos’ (2ª).


‘Globo’ – ‘Aliados de Roberto Jefferson comandam verbas de R$ 4 bi’ (D);


‘Ibama cancela convênios com 11 municípios fluminenses’.


‘Valor’ – ‘Exército vai iniciar as obras no São Francisco’.


‘Veja’, que saiu na frente nas denúncias de irregularidades nos Correios, e ‘Época’ também têm novidades que alimentam a crise do governo:


‘Veja’ – ‘Corrupção – Amazônia à venda. Petistas presos aceitavam propina de madeireiras que devastavam a floresta’; ‘A fita da mesada – Lídio Duarte, ex-presidente do IRB: ‘Cada indicado tem que botar 400.000’.


‘Época’ – ‘O laranja de Roberto Jefferson – ‘O Roberto me deu uma rádio’.


‘IstoÉ’ – ‘Cuidado: remédios’.


‘Carta Capital’ – ‘Pobre Brasil – A economia reduz a marcha, a desigualdade aumenta. Enquanto isso, na Daslu…’


Exclusivo


Com a entrevista concedida por Roberto Jefferson, a Folha entra, enfim, na cobertura do caso dos Correios. Até agora o jornal vinha acompanhando o caso com a seriedade que ele exige, mas sem informações exclusivas relevantes.


A entrevista é claríssima e a edição está muito boa.


Acho, no entanto, que o jornal já deveria ter adicionado a repercussão. O governo e o PT deveriam ter sido ouvidos. Não sei se isso não ocorreu por falta de tempo, por falta de espaço ou por decisão editorial (medo de que o teor da entrevista vazasse e o jornal perdesse a exclusividade). Na minha opinião, a entrevista exigia alguma resposta.


Segundo o texto ‘Petebista liderou tropa de choque de Collor’ (pág. A4), Jefferson fixou como estratégia aceitar cargos pouco expressivos, como o Ministério dos Esportes. Se não estou enganado, este ministério é do PC do B desde o início do governo Lula.


Américas


Segundo o ‘Washington Post’, a missão da ONU no Haiti comandada pelo Brasil é um fracasso (‘Amorim não se opõe a envio de marines ao Haiti’, capa de Mundo). É mais um questionamento sério à participação do Brasil naquele país. Os sinais de que há problemas na ação brasileira vêm se sucedendo e têm sido minimizados pelo Exército, pelo governo e pela diplomacia. O jornal deve a seus leitores uma reportagem própria sobre o que está acontecendo de fato no Haiti.


Esta cobertura está parecendo uma repetição, em escala tupiniquim, do que ocorreu com a mídia dos EUA na guerra do Iraque: um primeiro momento de patriotada (extensas e orgulhosas coberturas dos embarques de brasileiros para o Haiti) e depois o acompanhamento acrítico. A próxima fase, se bem avalio, será o da crítica violenta. O leitor, como sempre, não vai entender nada: como o país passa de uma hora para outra de herói a vilão? Espero que, junto, a imprensa publique uma autocrítica e reconheça que não está acompanhando o problema como deveria, ou seja, lá, no Haiti.


Ibama


O jornal esqueceu na edição de hoje o escândalo de corrupção no Ibama. A ministra Marina Silva deu entrevista ontem em que dizia que ‘vai cortar na própria carne’ e que o envolvimento de políticos do PT não impedirá as investigações. Não vi na Folha. A edição de ontem, domingo, trazia apenas um pequeno registro sobre o caso, ‘Ibama em Brasília sabia do caso, diz procurador’ (pág. A18)


Esporte


O ‘Placar’ que a Folha publica na pág. D5 com os resultados da rodada de classificação para a copa da Alemanha está incompleto. Não informa os critérios de classificação (que variam de continente para continente) e nem o número de jogos que faltam. Como não traz reportagem sobre os resultados na Europa, na África e nas Américas Central e do Norte, fica impossível saber quem está próximo de se classificar e que seleções podem ficar fora da copa.


DOMINGO


O jornal deve estar com repórteres e espaço de sobra e com falta de boas pautas para perder tempo e papel contando quantas horas o presidente Lula atrasou suas audiências nos últimos 40 dias (‘Em 40 dias, Lula acumula 10 horas de atraso’, pág. A22). Diante da importância dos resultados da pesquisa Datafolha e frente à necessidade de investir esforços na investigação jornalística da crise do governo, a reportagem soa a picuinha.


03/06/2005


A manchete da Folha, ‘Operação abafa da CPI custa R$ 400 mi’, carece de comprovação. Para ser fiel ao texto do jornal -’a nova operação do governo para tentar abafar a CPI dos Correios custará ao Planalto R$ 400 milhões em emendas parlamentares’ – o máximo que o jornal poderia arriscar seria algo do tipo ‘Operação abafa da CPI poderá custar R$ 400 mi’. Há uma diferença grande entre o jornal ter a informação de que a estratégia do governo prevê, em caso de não conseguir derrotar a CPI na CCJ da Câmara, liberar a grana de emendas de parlamentares fiéis para que a enterrem em plenário e o governo já ter de fato liberado grana apenas para os deputados fiéis. O título interno é cauteloso: ‘Operação contra CPI envolve R$ 400 milhões em emendas’.


As manchetes dos outros jornais:


‘Estado’ – ‘Contra CPI, Palocci abre os cofres’.


‘Globo’ – ‘Diretor do Ibama e mais 84 são presos por desvio de madeira’.


‘Valor’ – ‘Brasil prepara barreiras contra têxteis da China’.


‘Gazeta Mercantil’ – ‘Incerteza impede Maggi de expandir o plantio’.


Watergate


É uma pena que o jornal não tenha a tradução do texto em que o jornalista Bob Woodward conta, no ‘Washington Post’, sua história com Mark Felt, o ‘Garganta Profunda’ do caso Watergate. Dos jornais que li, apenas o ‘Globo’ publicou a íntegra do texto, e as duas páginas gastas se justificam. É um depoimento histórico.


Governo sob pressão


Não duvido que este governo, como outros que o precederam, possa estar usando a liberação de verbas orçamentárias para negociar apoio no congresso. Mas a reportagem de hoje (manchete e página A4) estará sujeita à comprovação. Como o texto informa, a primeira etapa da estratégia do governo é derrubar a CPI na CCJ. Portanto, se for vitoriosa, a proposta não chegará ao plenário. Ainda segundo o jornal, o governo já concluiu que possui votos suficientes para derrubar a CPI no plenário caso ela sobreviva à CCJ. Se tem essa maioria garantida, por que precisa negociar o destino das verbas (R$ 400 milhões) que, segundo o próprio jornal, foram liberadas por outras razões que não a CPI?


A Folha vem acompanhando de perto a liberação de verbas para as emendas dos parlamentares e tem associado as liberações a negociações no Congresso. Antes mesmo do escândalo dos Correios o jornal anunciou a liberação de R$ 150 milhões para ‘fortalecer líderes de partidos aliados e enfraquecer o comando do presidente da Câmara’ (2 e 5/5). Depois da denúncia da ‘Veja’ o jornal informou (23/5) que o governo montara uma ofensiva para forçar a retirada de assinaturas no pedido de CPI encaminhado pela oposição: ‘Planalto faz ‘operação abafa’ para evitar CPI’. O texto se referia à liberação de verbas para as emendas dos congressistas. No dia seguinte, o jornal atribuiu à pressão que o governo sofre a liberação de despesas bloqueadas: ‘Governo federal desbloqueia R$ 773 milhões’. Este texto contém uma informação que não foi levada em conta: ‘O desbloqueio foi anunciado ontem porque era o último dia do prazo fixado pela Lei de Responsabilidade Fiscal para a revisão das projeções fiscais do segundo bimestre do ano’.


No dia seguinte, 25/5, o jornal informa, sempre sob o chapéu ‘Governo sob pressão’: ‘Governo libera R$ 200 mi a parlamentares’. No dia 26, outra notícia: ‘Governo libera R$ 12,2 mi em apenas um dia’.


Como disse, não duvido que o governo possa estar negociando verbas destinadas a emendas para parlamentares em busca de apoio político no Congresso. Mas está na hora de o jornal organizar estas informações. Quanto, afinal, foi liberado desde o início de maio e antes mesmo do escândalo dos Correios? Quanto depois? Foi tudo para negociação no Congresso? Quem se beneficiou de fato?


Sem esta consolidação e a comprovação das negociatas fica difícil entender o que se passa além da denúncia genérica que associa as liberações ao empenho de apoio. Como o jornal, corretamente, está atento às negociações parlamentares, é sua obrigação buscar formas de comprovação do que vem divulgando como ‘estratégia’ do governo.


O ‘Estado’ também noticia a liberação de verbas na manchete (‘Contra CPI, Palocci abre cofre’) e internamente (‘R$ 1,5 mi para cada deputado contra a CPI’). A reportagem da Folha é toda em off, apuração do jornal. A do ‘Estado’ tem uma fonte revelada, o líder do PL, deputado Sandro Mabel (GO).


O noticiário de hoje, francamente desfavorável ao governo federal (págs. A4, A5, A6, A7 e A8), exigia a reserva de um espaço com destaque para que o Planalto ou a base aliada no Congresso tentasse explicar a estratégia de liberação de verbas em troca de apoios.


Quatro títulos das páginas A6 e A7 Edição Nacional de Brasil revelam como o noticiário político está sustentado por declarações: ‘Renan diz que vai indicar nomes para CPI’, ‘Lula não mexerá em equipe, diz senador’, ‘Governo não deve temer verdade, diz cardeal’ e ‘Quem não deve não teme, diz Vidigal’. Os dois últimos, que até rimam, foram mudados na Edição SP.


Política externa


Não ficou claro para mim, na reportagem em que a Folha se recupera do furo que levou ontem em relação à reformulação da ONU, se a China pode vetar a reforma. O título informa que ‘China veta Conselho de Segurança ampliado’, mas a reportagem diz que a reforma precisa ser aprovada por maioria de dois terços dos países. Fica a dúvida: neste caso, o poder de veto que a China detém no Conselho de Segurança se aplica à votação da matéria no plenário? Se sim, o título está correto, mas a reportagem deveria ter sido mais clara. Se não, o título está errado.


O ‘Estado’ traz novas informações sobre as relações Brasil-China: ‘Agora, China se opõe à permanência da força de paz brasileira no Haiti’.


Entrevista


É a segunda entrevista que a Folha publica em menos de dois meses com o empresário Antônio Ermírio de Moraes, titular da coluna vertical da página A2 de domingo (‘Lula precisa viajar menos e trabalhar mais, afirma Ermírio’, na capa do jornal, e ‘Para Ermírio, Lula precisa trabalhar mais’, na pág B7).


Máfia verde


É estranho a edição de uma reportagem de polícia na página de Ciência (‘PF desmonta esquema de madeira ilegal’, pág. A17), mesmo se tratando de meio ambiente.


Está errada a remissão na primeira página da Edição Nacional. A reportagem está na pág. A17, e não na A15.


Funcionalismo


A reportagem sobre a greve do INSS (‘Greve do INSS pára 96% das agências em SP’, pág. B6) deveria ter tido mais preocupação com a prestação de serviço do que no relato da extensão do movimento. Para o leitor que precisa do INSS seria mais importante uma arte com as informações que estão no texto a respeito de como proceder em cada caso do que a que mostra as áreas do funcionalismo paradas. Serviço e orientação nunca são demais.


Aliás, como o jornal faz na reportagem ‘Lei de fila em banco valerá em setembro’, editada na mesma página.


Plágio


Achei bem consistente a reportagem em que a Folha compara o livro assinado pelo técnico Carlos Alberto Parreira com o escrito por Charles Hughes (‘Único livro de Parreira, o teórico do futebol, é plágio’). O técnico minimiza o fato de o livro lançado pela CBF literalmente copiar passagens inteiras da obra inglesa, mas os trechos traduzidos não deixam dúvida. O outro lado está bem protegido. E há um bom material de apoio (perfil de Hughes, informações sobre direitos autorais, a trajetória de Parreira e o uso comercial do livro).


Carioca


Está errada a frase que abre a reportagem sobre os hospitais do Rio (‘Rio volta a enfrentar crise em hospitais’, capa da Edição Nacional e pág. C7 da Edição SP): ‘Cariocas voltaram ontem a enfrentar problema…’. Carioca é quem nasce na cidade do Rio; no Estado, é fluminense. Como, entre os hospitais atingidos, havia um de Duque de Caxias, o gentílico está errado


2/06/2005


Folha – ‘Lula diz que economia terá ‘bela surpresa’ em 2005’. Embora qualquer comentário vindo do presidente da República deva ser registrado e avaliado como notícia, não creio que este de hoje, apenas uma promessa para atenuar a reação negativa que se seguiu ao anúncio do PIB, merecesse manchete do jornal, mesmo que no formato de ‘falsa’ manchete.


Como se saíram os outros:


‘Estado’ – ‘China ameaça vetar Brasil no Conselho da ONU’.


‘Globo’ – ‘Estagnação eleva o peso dos impostos para 41%’.


‘Valor’ – ‘Balanços apontam lucros fracos no mercado interno’.


‘JB’ – ‘Palocci dita o tom da política para preservar economia’.


‘Correio Braziliense’ – ‘Lula na defesa…’ [presidente diz que economia vai surpreender] ‘…e no ataque’ [governo afasta rebeldes da CCJ].


Diplomacia


O ‘Estado’ está mais atento e noticia com destaque (manchete) a entrevista do embaixador da China na ONU à Associated Press. O jornal interpreta a entrevista como uma indicação de que o governo chinês vetará a proposta de reforma da ONU (e ampliação do seu Conselho de Segurança) que interessa ao Brasil. O veto, se de fato ocorrer, frustrará o principal objetivo da política externa brasileira neste momento.


O ‘Globo’ também tem a informação, mas não dá o mesmo destaque.


Política Social


O ‘Radar Social’, estudo do Ipea que o ‘Globo’ já tinha explorado na edição de ontem, mereceu duas versões distintas na capa da Folha de hoje. O jornal foi mais ‘crítico’ na Edição Nacional, na qual chamou a atenção para a política de retenção de verbas do governo que paralisa os programas sociais: ‘Gastos com ações sociais não alcançam 1% do orçado’. Já na Edição SP o enfoque foi a atualização do número de pobres: ‘Brasil tem 53,9 milhões de pobres, afirma Ipea’.


Também nas páginas internas se percebe a mudança de um tom crítico para uma formulação factual: na Edição Nacional, a manchete da pág. A12 foi ‘Bolsa-Família não beneficia 9 milhões de pobres, diz Ipea’; na Edição SP, ‘Radar Social’ do Ipea diz que Brasil tem 53,9 mi de pobres’.


O ‘Estado’ ignorou o estudo na sua primeira página e, internamente, chamou para renda (‘Mais de 30% do País vive com meio salário mínimo, diz Ipea’) e para um dos programas sociais do governo (‘Primeiro Emprego não decolou, admite ministro’).


Saída pela lateral


A reportagem ‘Interno tenta fuga em visita à Câmara’, na pág. A6 da Edição São Paulo (A5 na Edição Nacional) noticia a tentativa de fuga de um adolescente que visitava, junto com um grupo, a Câmara Municipal de São Paulo. A reportagem (redigida a partir dos relatos de seis repórteres) me pareceu correta. Mas logo no primeiro parágrafo informa que ‘a cena ocorreu logo após discurso do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), que estava na tribuna’. E nada mais informa, nesta reportagem e em nenhum outro lugar do caderno, sobre o teor do discurso do prefeito ou a razão de sua ida à Câmara.


Imagino que a presença de tantos repórteres deve ter sido pela visita do prefeito. O que foi fazer ali? Nada? Havia alguma votação importante, a apresentação de algum projeto?


01/06/2005


As manchetes refletem as preocupações que agora também atingem a economia:


Folha – ‘PIB mostra desaceleração geral no país’.


‘Estado’ – ‘PIB cresce só 0,3% no trimestre’.


‘Globo’ – ‘Escalada de juros do BC pára a economia’.


‘Valor’ – ‘Economia desaquece e os investimentos caem’.


‘Gazeta Mercantil’ – ‘Exportação arrefece e PIB cresce só 0,3%’.


Segundo o ‘JB’, ‘Governo vive inferno astral’.


A Folha começou a rodar com a informação, na primeira página, da queda da popularidade do governo Lula (‘Avaliação da gestão Lula cai com suspeita de corrupção’), mas retirou-a na Edição São Paulo para incluir um assunto novo e relevante: o Ministério Público acusou a rede McDonald’s de pagar auditores da Receita Federal para se livrar de multas (‘Procuradoria acusa auditores de beneficiar rede de fast food’). A inclusão do novo assunto se justifica, mas acho que o jornal deveria ter encontrado uma forma de manter o resultado da pesquisa na primeira página. Afinal, é um termômetro, não o único, deste período de prolongada crise do governo.


O ‘Estado’ foi o que deu mais destaque para a pesquisa: ‘CPI tem apoio da população; avaliação de Lula piora’. O ‘Globo’ registra que ‘Lula tem leve queda’ e publica um gráfico com a evolução da popularidade do presidente.


E todos destacam, com foto, a revelação da identidade do ‘Garganta Profunda’, o homem-chave no caso Watergate que resultou na renúncia do presidente Nixon.


Governo sob pressão


Se a nova estratégia do governo para impedir a formação da CPI dos Correios é inviabilizá-la na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados (‘Planalto muda tática e agora quer matar CPI em comissão’, pág. A4), o lógico seria o jornal trazer hoje uma avaliação detalhada da composição da comissão. O próprio governo admite, como está no jornal, que teme novo episódio de traição. Quem compõe a CCJ? Quem é da base mas costuma votar contra? O jornal se refere a dois deputados do PP que assinaram o requerimento da CPI e que foram substituídos. Quantos outros titulares da comissão assinaram a CPI? Como vão votar? Este é o único caminho para fugir das aspas dos cardeais do governo e da oposição. Como vimos em vários episódios recentes, o que dizem faz parte do jogo político e escamoteia o que de fato pode vir a acorrer.


A arte deveria ser ‘Entenda a CCJ da Câmara’.


O ‘Estado’ tem boas informações da ação de bastidores do ministro Palocci para impedir a formação da CPI: ‘Palocci assume operação contra CPI dos Correios’. O ‘Globo’ também faz referência ao papel do ministro: ‘O bombeiro Palocci’.


? Na Edição Nacional, o jornal informa que a oposição tem 18 dos 50 membros titulares. Na Edição SP, os números mudam: a oposição tem 20 dos 60 membros titulares. O ‘Estado’ fala em 61 integrantes.


Em que edição erramos? Ou erramos nas duas?


Painel


Não entendi a nota ‘Festa de família’, do Painel (pág. A4). Segundo o jornal, o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, teria ficado feliz porque surge isolado em segundo lugar em ‘quase todos os cenários para a Presidência’. Mas na arte editada na página A5 (‘Cenários eleitorais’), Garotinho só aparece de fato isolado em segundo em um dos quatro cenários; em um ele aparece em segundo, mas empatado com Alckmin (a margem de erro é de três pontos percentuais); em outro, aparece em terceiro; e no quarto cenário não é colocado.


Ipea


O ‘Globo’ antecipa estudos do Ipea sobre distribuição de renda e sobre criminalidade: ‘O bolo ainda mal dividido’, ‘Distribuição só é pior em Serra Leoa’, ‘O perfil social do brasileiro’ e ‘Homicídio doloso triplicou de 1980 a 2003’.


A festa de Paraty


A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) será em julho, mas os três grandes jornais se rendem à agenda imposta pelos organizadores e iniciam hoje, ao mesmo tempo e combinadíssimos, a divulgação do evento. A Folha dedica a capa da Ilustrada (‘Clarice sem mistérios’) e mais uma página (‘Clarice ganha verbo na voz de Gullar e Chico’). Tem até uma defesa prévia da festa, sempre criticada por ser organizada e controlada por grandes editoras (‘Flip busca pluralidade e repete o modelo de sua edição anterior’).


O ‘Estado’ destina meia página ao evento: ‘Um cidadão do mundo em Paraty’. E o ‘Globo’ também reserva a capa para a divulgação, ‘Ora, direis, ouvir estrelas na Flip!’.


Já tratei em outras críticas e colunas deste problema de submissão dos cadernos culturais às agendas dos produtores culturais. Em alguns casos, como em lançamentos de livros ou filmes, é até possível se discutir que a publicação simultânea seja inevitável. Mas, ter de assumir compromisso para divulgar no mesmo dia um evento literário, a mim me parece submissão demais.’