A relação entre jornalistas e patrões no Paraná vive o ápice de sua crise. Seguimos tentando manter a magia da profissão, defendendo coisas que muitas vezes não acreditamos, em troca de lucros que não são revertidos a nós. Nesse teatro de vampiros, as emissoras de TV e donos de jornais enriquecem, vendem matérias pagas como água, mas se negam a valorizar os protagonistas. O Projeto Intermeios apontou uma margem de lucro dos empresários de comunicação superior a 19% em 2010. No entanto, os empresários se recusam a dar aumento real à categoria. Há 14 anos não recebemos um tostão a mais do que reajuste inflacionário. Na negociação, queremos 7%, o que responde a apenas 0,5% a cada ano em que a profissão vem sendo jogada no ostracismo pelo patronato. E a resposta? Não. Sempre não.
O Dieese aponta que o salário mínimo necessário deveria ser de R$ 2.227,53, mas, diante do impasse desde outubro, a categoria continua estacionada num piso de R$ 2.049,11 – ou 8% a menos. Ainda que seja concedido o reajuste do INPC admitido pelos patrões, o salário de ingresso dos jornalistas do estado iria a R$ 2.145,00 e ficaria ainda abaixo do mínimo do Dieese. As fortunas não podem ser tocadas, mas nosso sangue pode ser tirado a cada edição que temos que fechar. No interior do Paraná, principalmente, as redações estão lotadas de estagiários e jornalistas com diploma ganhando menos que o piso e trabalhando oito horas diárias. Hora-extra? Nunca em forma monetária. Cascavel, no oeste do estado, tem uma imprensa atuante e ao mesmo tempo explorada. Tal qual nas senzalas, trabalhamos oito horas pode dia. Hora-extra? Palavra desconhecida por aqui.
Estratégias de ação
A vontade de continuar cumprindo o importante papel social e o prazer de viver uma notícia é que nos deixa desistir. Depois de mais uma negativa dos patrões em manter a negociação da Convenção Coletiva de Trabalho em termos aceitáveis, os jornalistas paranaenses, sob coordenação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná, deflagraram nesta sexta-feira (4/2) uma campanha no twitter usando a hashtag #JornalistaGanhaMal. Trata-se de uma estratégia de campanha para mostrar à sociedade que, ao contrário do que se imagina, os jornalistas de forma geral não são bem remunerados e, no caso paranaense, estão há 14 anos sem aumento real.
Os colegas estão sendo chamados a participar do tuitaço enviando mensagens como as sugeridas pelo Sindicato: ‘Nossa dor não sai no jornal 14 anos sem aumento real’, #JornalistaGanhaMal’; ‘#JornalistaGanhaMalJornalista quer aumento real!’, ‘Jornalistas do Paraná já tivemos um piso de dez salários mínimos. Hoje, o piso é inferior ao mínimo necessário do Dieese#JornalistaGanhaMal’.
Em assembleia em Curitiba, Ponta Grossa e Foz do Iguaçu e Cascavel na quarta-feira (2/2), a categoria havia decidido prosseguir com a mobilização por uma nova Convenção Coletiva de Trabalho que garanta aumento real.
Os jornalistas não admitem que as empresas, que apresentam lucros crescentes ano a ano, se recusem a aumentar seus salários. Mais: enquanto todas as outras categorias conquistam aumentos reais consecutivos, os jornalistas paranaenses estão estagnados e tendo seus salários corroídos há anos. Cansados de enfrentar a mesma displicência dos patrões, que insistem em dizer que suas empresas estão com dificuldades e que não podem dar nada além da inflação, os jornalistas prosseguem na luta por aumento real e já definiram estratégias de ação para as próximas semanas a fim de exigir dos empregadores propostas efetivas de avanço.
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Jornalista, em parceria com blog Acorda Jornalista: http://acordajornalista.blogspot.com/